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Fórum Mundial terá espaço para empresas falarem ao público sobre uso da água

Olga Bardawil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 03/02/2018 - 18:48
Brasília
Vista da área externa do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
© Elza Fiúza/Agência Brasil

O 8º Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília entre os dias 18 e 23 de março, reservou lugar para as empresas poderem mostrar ao mundo como lida com a questão da água. Na verdade, são dois espaços a serem visitados por públicos diferentes: a Expo, com acesso restrito aos inscritos no Fórum; e a Feira, que terá o ingresso gratuito, fraqueado ao grande público, instalada na Vila Cidadã que será montada no Estádio Mané Garrincha.

O diretor de Operações do 8º Fórum Mundial da Água, Rodrigo Cordeiro, responsável por todo o processo de comercialização dos estandes e espaços da Expo e da Feira, considera essa uma grande oportunidade para as empresas se comunicarem com o publico na linguagem mais apropriada. Ele explica que “na Expo, onde o público é muito mais segmentado e o acesso é restrito aos inscritos no Fórum, a linguagem pode ser um pouco mais técnica. Já para a participação na Feira, a linguagem deve traduzir tudo aquilo que a empresa faz em informação que a sociedade consiga entender”.

Nesta entrevista exclusiva à Agência Brasil, Cordeiro lembrou que, a partir das crises hídricas que têm ocorrido com frequência no Brasil e em outras partes do mundo, houve uma tomada de consciência maior por parte de todos. Tanto das autoridades que precisam envolver as pessoas no cuidado da água quanto esses consumidores, e aí incluem-se as empresas de um modo geral. Há essa oportunidade de levar a informação diretamente para um publico interessado no assunto. “A questão da água entrou na pauta da sociedade”, destaca.

 Válter Campanato/Agência Brasil

Rodrigo Cordeiro, diretor de Operações do Fórum, diz que as empresas terão vários tipos de público durante o evento. Valter Campanato/Agência Brasil

No total, serão montados 9.600 metros quadrados (m2) de área de estandes contra 8 mil m2 das feiras realizadas em fóruns mundiais anteriores, com a presença de 150 empresas e um público esperado de 45 mil pessoas. O hotsite do evento já recebe inscrição de participantes e visitantes no endereço http://www.worldwaterforum8.org/.

Agência Brasil - O 8º Fórum Mundial da Água criou esses dois espaços distintos com propostas distintas. Vamos começar pela exposição. Quem participa?

Rodrigo Cordeiro - A Expo tem um grupo muito amplo de expositores, desde instituições do setor publico ligadas direta ou indiretamente com o tema da água a empresas que são usuárias de água, como as do setor de energia, do petróleo e dos vários segmentos que são grandes usuários de águas. Essas empresas decidiram participar porque entendem que o Fórum Mundial da Água é o local adequado para a exposição de seus produtos, seus projetos e suas soluções para o uso da água.

Agência Brasil - E qual é o interesse desses expositores? É vender produtos ou fazer simplesmente a divulgação de suas marcas?

Cordeiro - A área de exposição do 8º Fórum é dividia em duas partes: uma delas se chama Expo e a outra, Feira. A Expo é um espaço destinado para as empresas que querem prospectar negócios ou simplesmente conversar num ambiente de negócios, assim também como ter encontros com governos, universidades etc. Então, esse é um espaço restrito para os participantes inscritos no 8º Fórum Mundial da Água. Já a Feira traz esses mesmos grupos ao encontro de outro grande grupo, que é o dos consumidores. Então a Feira é um espaço aberto ao publico em geral.

Agência Brasil - O acesso à Feira então é gratuito, mas para a Expo é pago?

Cordeiro - Sim. A Expo tem o acesso restrito aos inscritos como participantes do Fórum que pagaram para participar do evento. Mas é bom que se diga que nem todos pagaram pela inscrição; a gente tem muitas cortesias cedidas para grupos cuja participação o Fórum quer incentivar. Pelo Processo Cidadão, foi feita uma chamada de pessoas interessadas em participar e que não teriam condições de vir ao Brasil. Ao final, quando esse processo se encerrou, tivemos 200 pessoas inscritas, de todas as partes do mundo. Portanto, a participação no 8º Fórum também é algo muito democrático.

Agência Brasil - Voltando às empresas na Expo, quantas delas já compraram espaços para os seus estandes?

 Elza Fiúza/Agência Brasil

A área do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, vai receber a Vila Cidadã do 8º Fórum Mundial da Água.Elza Fiúza/Agência Brasil

Cordeiro - A parte da Expo já está 100% vendida. E a Feira, já tem 80% de ocupação.

Agência Brasil - Para o expositor, qual é exatamente a diferença entre a Expo e da Feira?

Cordeiro - A diferença é uma questão puramente conceitual e depende do que a empresa quer mostrar no seu estande. Na Expo, o publico é muito mais segmentado, até pelo acesso restrito aos inscritos no Fórum, então a linguagem pode ser um pouco mais técnica. Já para a participação na Feira, a recomendação que a gente vem dando aos expositores é a de que a linguagem seja mais acessível, isto é, que traduza tudo aquilo que a empresa faz em informação que a sociedade consiga entender. Portanto é um outro conceito de exposição.

Eu diria que a característica do que as empresas vão mostrar tem um formato mais lúdico e um conteúdo mais informativo. Por exemplo, se nós convidamos uma grande empresa como a Coca Cola para a Expo, bem, trata-se de uma marca que todo mundo conhece, e num ambiente de negócios como é a Expo, o que ela teria pra mostrar seria muito sucinto; basicamente ela diria que é neutra em consumo de água, que devolve para a natureza tudo o que ela consome e não tem muito mais a dizer. Mas quando a convidamos para a Feira, ela é capaz de dizer tudo o que ela faz em relação água para a sociedade como um todo. Ou seja, é a mesma informação, mas entregue de uma outra forma, para um público muito maior.

Agência Brasil - E esse público que vai à Feira deve ser muito maior do aquele que vai visitar a Expo, certo?

Cordeiro - Sim, porque o acesso à Feira se dá pela Vila Cidadã, que é aquele espaço lúdico, criado para que as pessoas sejam levadas a se engajar no tema da água. Então o número de visitantes é maior.

Agência Brasil - E o que esses visitantes vão encontrar a Feira?

Cordeiro - Eles vão encontrar oficinas, workshops, cinema, arena de conhecimento, mostra de tecnologia, enfim uma série de ações da Vila Cidadã que faz com que os visitantes se capacitem a entender que é esse universo da água. E nesse contexto a Feira vai permitir conhecer as empresas e tudo o que elas fazem num ambiente corporativo em prol da água. Por isso nós falamos que a entrega de informação para a sociedade se dá numa linguagem muito clara, que permite ao visitante entender o que faz cada uma das empresas que tem lá dentro.

O visitante vai encontrar, por exemplo, óculos de realidade virtual que simula uma visita a um reservatório de água. Pouca gente conhece um reservatório de água. Imagine então poder ver o reservatório no período de cheia e comparar com o reservatório no período de seca, quando surge a crise hídrica. Então essa é uma informação tecnológica mas com o impacto visual. A provocação que a gente vem fazendo a todas essas empresas é a de que saibam se comunicar e, num evento como esse, todas consigam atrair mais jovens mas se engajarem no tema da água.

Agência Brasil - Com esse problema das crises hídricas, o senhor acha que as pessoas de um moldo geral já estão ligadas no problema da água?

Cordeiro - Sim, mas o principal desafio é engajar mais gente em prol desse tema. A água finalmente entrou na pauta da sociedade, e demorou bastante. Todos os alertas que a comunidade técnica e científica podia dar, ela já deu. Mas poucas foram as ações efetivas a partir dai. Quando a gente realiza um evento desse porte no Brasil, essa é a grande oportunidade para uma mudança completa de comportamento em relação ao problema da água. Quando você vive episódios de crise hídrica, você fica mais a fim de entender com mais profundidade aquele tema.

Sistema Cantareira

A participação da população ajuda a enfrentar crises hídricas. Na foto, o Sistema Cantareira em 2014.Divulgação/Sabesp

Eu sou paulistano e em 2014 nós passamos uma crise hídrica em São Paulo onde parte da virada se deu no momento em que o governo assumiu que havia uma crise hídrica e disse que precisava da população para reverter aquele quadro. E, quando isso aconteceu, a gente começou a se comportar de maneira diferente. Deu certo? Deu. É bem verdade que houve os fatores climáticos, começou a chover, mas a Sabesp hoje afirma que o volume de água consumida pelo paulistano é menor do que era antes da crise hídrica. Portanto, toda crise hídrica deixa legado e, acima de tudo, pela maior percepção das pessoas da importância do tema da água. 

Agência Brasil - O senhor disse que na Expo, a maior parte dos expositores são empresas. E os países? Há representação de algum país, algum governo?

Cordeiro - A maioria dos países escolheu participar da Expo. São 16 pavilhões de grande porte de países já comercializados. Que vão mostrar aqui tudo o que eles fazem com relação ao tema da água. Mas tem um país que optou por montar seu estande na Feira: o Tajiquistão, que optou por ficar na Feira em função do turismo. E esse é um fato curioso porque é um país que percebeu a vantagem de participar de um evento desse porte no Brasil que tem 200 milhões de habitantes e ter a grande chance de despertar o interesse do brasileiro de visitar o seu país. Então a Feira é interessante para isso. Porque o público total da Expo é o de participantes do Fórum, que é na casa de 10 mil pessoas. Já na Feira, nos temos um horizonte de 45 mil pessoas, porque para Vila Cidadã a gente espera 35 mil somados aos 10 mil da Expo.

Agência Brasil - Uma das questões que os ambientalistas sempre levantam diz respeito à quantidade de água gasta na agropecuária, que equivale a 70% de toda a água consumida no planeta. Alguma entidade, alguma empresa desse setor vai participar da Expo ou da Feira?

Cordeiro - A Confederação Nacional da Agricultura - CNA - vai estar presente na Expo com um estande bastante grande.

Agência Brasil - Mas tem alguma empresa ligada ao agronegócio?

Cordeiro - Por enquanto, não. Nós estamos ainda em negociação com algumas empresas que produzem insumos para a agricultura. Eu acredito que o evento tem que ser democrático, que quando uma empresa vem mostrar tudo o que ela é capaz de fazer, isso significa que ela tem uma noção muito clara do produto que ela vende. O fato é que a gente precisa de fertilizantes, a gente precisa desse tipo de produto para a produção agrícola. Nem toda a agricultura consegue ser orgânica, isso não é sustentável de uma forma global. E essas empresas, muitas delas, fazem muito pela água. Portanto, eu acho que, em vez de selecionar, que tal a gente convidar todo mundo para dizer o que eles fazem? Porque isso fortalece o processo. Então, todas as empresas podem decidir se querem estar na Expo ou na Feira ou nos dois espaços. É uma decisão estratégica da empresa, a escolha da linguagem que ela vai usar para comunicar aquilo que ela faz.