Migração estrangeira para o Rio tem mão de obra mais qualificada
Dos 76,7 mil estrangeiros que viviam no estado do Rio de Janeiro em 2010, cerca de 70% ou 53,7 mil imigrantes, moravam na capital fluminense. De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),, 40% deles, ou aproximadamente 21,5 mil, tinham alto nível de instrução e cargos bem remunerados, em níveis de gerência e diretoria. Em contrapartida, 39% não tinham sequer instrução fundamental e 21% declararam ter nível intermediário.
Esse é o perfil dos estrangeiros residentes na cidade, conforme pesquisa divulgada hoje (16) pela Pastoral do Migrante e Rede de Migração Rio, com base nos três últimos censos decenais. Em 2010, 29,2 mil estrangeiros com mais de 10 anos de idade trabalhavam (27% na área de ciências; 20% nos setores de serviços, comércio e mercados, 15% disseram ser gerentes ou diretores de empresas e os demais exerciam ocupações elementares.
O demógrafo do IBGE Tadeu Oliveira, que coordenou a pesquisa, explicou que, nas três décadas analisadas, identificou-se a presença crescente de pessoas vindas dos Estados Unidos e de países europeus, indicando uma imigração qualificada para o estado. “Não se trata mais daquele trabalhador que vinha para a agricultura ou para a indústria. É mão de obra qualificada que está vindo da Europa. Também vemos um fluxo muito importante da América do Sul, da África e até da China.”
Outra mudança que chama a atenção é o aumento da diversidade de fluxos de imigrantes e um processo de desconcentração em torno dos três países mais presentes: Portugal, Itália e Espanha. Os portugueses representam o maior grupo de estrangeiros residentes no Rio, mas houve redução de aproximadamente 12% da participação portuguesa entre 1991 e 2010 no estado, e isso reflete uma tendência de queda em todo o país, revela a pesquisa.
Simultaneamente, os sul-americanos aumentaram significativamente sua presença no Brasil nas últimas décadas, representando 11,6% do total de estrangeiros em 2010, ante 6,3% em 1991. Aumentou sobretudo o número de argentinos, tanto na capital quanto nos demais municípios do estado, que acolhe cerca de 20% de todos os estrangeiros que vivem no país.
O crescimento da presença africana registrou-se sobretudo pelo aumento da participação dos angolanos, que praticamente dobrou, passando de 1.074, em 1991, para 2.124, em 2010. O estudo sugere que a maior presença de africanos também indica a diversificação de origens, influenciada pelas solicitações de refúgio nas últimas décadas.
Para o demógrafo do IBGE, o estudo poderá contribuir com subsídios para políticas públicas específicas para imigrantes, que não existem no país. “Temos o Estatuto do Estrangeiro, que é uma lei criada na época da ditadura, e o estrangeiro ainda é uma ameaça. Existem uns três projetos de lei tramitando no Congresso Nacional, mas política pública mesmo – de garantias do direito do imigrante – não temos, nem lugar decente para abrigá-los quando cruzam a fronteira, nem política de inserção no mercado de trabalho. Hoje, trabalhamos no improviso”, completou.