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Direitos Humanos

Série especial debate aumento das chacinas no estado de SP

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Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil
14/10/2015 - 05:00
São Paulo

Confira a primeira reportagem (de um total de quatro) do especial "Chacinas em São Paulo: A guerra urbana silenciosa", produzida e publicada originalmente pela Agência Brasil. Nesta versão radiofônica, elaborada em parceria com a Radioagência Nacional, ouça o capítulo "Da autoria desconhecida a grupos de extermínio".

 

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O número de chacinas – ou seja, ocorrências com mais de três mortes – no estado de São Paulo este ano já se iguala à quantidade registrada em todo o ano passado. Foram 15 chacinas, com 62 mortes até 22 de setembro. No ano passado, houve 15 chacinas com duas vítimas a mais no total.O balanço é da Ouvidoria das Polícias e foi obtido pela Agência Brasil.

 

Este ano ocorreram ainda 120 assassinatos registrados como de autoria desconhecida. É assim que a polícia classifica os homicídios com menos de três vítimas. De acordo com o ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves, na maior parte deles, há indícios de execução, como no caso recente das chacinas em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Uma das linhas de investigação é de que a chacina ocorreu como vingança pela morte do policial militar Ademilson Pereira de Oliveira naquela região seis dias antes.

 

Sonora: “Em Osasco falaram em 19 [assassinatos] na chacina. Mas tivemos mortes por autoria desconhecida de cinco pessoas, entre a morte de Ademilson Pereira de Oliveira [policial militar] e a chacina propriamente dita [que pode ter ocorrido como vingança pela morte do policial], que eles não contabilizaram por ser autoria desconhecida, mas o modus operandi é o mesmo: tiro no rosto, no tórax, na cabeça”.

 

Ele alerta para as consequências de não se ter autor identificado.

 

Sonora: “Com as autorias desconhecidas, você nunca fica sabendo quem é o autor. A polícia nega veementemente participar disso. Então sobra para quem? É como se fossem da bandidagem. Ficam casos que não elencamos naquela letalidade policial porque não fica definitivamente claro que foi [provocada por] policial militar”.

 

Os números da Ouvidoria são parecidos aos do Instituto Sou da Paz, que calcula em 12 chacinas no primeiro semestre deste ano, sendo metade na capital paulista. Esse quadro preocupa Bruno Langeani, coordenador da entidade.

 

Sonora: “O número de chacinas, especificamente na capital, neste primeiro semestre de 2015, dobrou. Outro dado bastante preocupante é que o número de vítimas, também na capital, triplicou. E combinado com essa informação das chacinas, sugerem a existência de grupos de extermínio ou de matadores em ação”.

 

Sobre esse assunto, o ouvidor da polícia também alerta para o número de mortes ocorridas em confrontos com policiais. No ano passado, foram 840 mortes, aproximadamente. Este ano já são cerca de 570. Para ele, “é impossível pensar que não existem grupos organizados”.

 

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública fala em redução dos homicídios múltiplos. O órgão afirma que “na capital foram 43 casos em 2002 contra sete no primeiro semestre de 2015”.  A ideia da existência de grupos de extermínio atuando no estado também foi contestada pela secretaria.

 

Em entrevista coletiva concedida no fim do mês passado, o secretário de Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, negou que o número de chacinas esteja crescendo e que isso seja uma tendência.

 

Ficha técnica

Reportagem: Elaine Patricia Cruz

Sonorização: Priscila Resende

Edição: Beatriz Pasqualino e Lilian Beraldo

Coordenação: Lilian Beraldo, Juliana Cezar Nunes e André Muniz

Esta é uma produção da Agência Brasil em parceria com a Radioagência Nacional.

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