Catadores de SP protestam contra fechamento de ferros-velhos; 300 famílias perderam renda
Cinco ferros-velhos de São Paulo foram fechados pela prefeitura da cidade na semana passada. Com isso, pelo menos 300 famílias de catadores ficaram sem trabalho. Mais detalhes na reportagem.
A operação da prefeitura interditou os cinco ferros-velhos que funcionavam na região do Brooklin, uma das áreas com o metro quadrado mais valorizado da capital paulista. Segundo Bruno Andrade, dono de um dos estabelecimentos, não houve qualquer comunicado da prefeitura.
Sonora: "Ficamos sabendo através de um colega nosso, de outro colega, de outro colega. Eles não avisaram, a gente que conseguiu saber que eles viriam aqui. Aí chegaram aqui com todo o tipo de autoridade, que eles chegam com muita autoridade, eles não procuram conversar, e derrubaram nosso portão, quebraram o portão, jogaram no chão."
No lugar do portão foi construída uma parede de tijolos. Com a interdição, pelo menos 300 famílias que sobreviviam da reciclagem de material estão sem trabalho. Victor Pereira de Souza tem 22 anos e há quatro trabalha como catador e conta como foi a ação da prefeitura.
Sonora: "Chegaram por volta de 10 e meia, tirando todo mundo, colocando todo mundo pra fora, pra fazer a vistoria e colocar o muro. O agente da prefeitura veio falar pra gente pegar o bolsa família. Bolsa família, ganhar 20 reais? Cada pai família? Com quatro, cinco filhos pra sustentar? Nem solução isso é. O rapaz não trouxe um papel, um documento, mandou a gente ir correr atrás deles."
Cerca de 2 mil pessoas foram afetadas. A ação da prefeitura aconteceu na semana passada, dia 24, em meio à polêmica da ação policial na Cracolândia.
Sonora: "O argumento foi que era fase 2 cracolândia. Foi o que ele alegou pra gente. Então, a operação fase 2 é fechar todos os depósitos, pros usuários não vim pra zona sul, os usuários de crack. Ele acha que no ferro velho só tem usuário de crack. mas a maioria é tudo trabalhador, pai de família."
O clima entre os catadores é de revolta e desespero. Muitos caíram no choro enquanto davam entrevista. Para Bruno, a interdição ao trabalho dos ferros-velhos tem a ver com especulação imobiliária.
Sonora: "Eu associo esse fechamento aqui, mas por causa do mercado imobiliário da região. A gente não tem certeza, mas é o que a gente imagina, né?"
Ao lado do ferro velho de Bruno, um terreno desocupado de 800 metros quadrados está à venda por R$ 4 milhões. A área é residencial, mas torres comerciais, que caracterizam o lugar, podem ser construídas em terrenos acima de 2 mil metros quadrados.
Além dos ferros-velhos, os catadores também reclamam que as carroças estão sendo apreendidas. Marcos Antonio, trabalha há 23 como catador e fala sobre a abordagem nas ruas.
Sonora: "Quando nós tá saindo na rua, se os cara vê nós parado com a carroça em praça, em qualquer, tá parando o caminhão, com a perua, pega a carroça, joga encima do caminhão. É o rapa. não sei se é rapa. Sei que tão levando embora as carroças."
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de São Paulo para checar o que motivou o fechamento dos ferros-velhos, esclarecer qual a política está sendo adotada em relação às carroças dos catadores e o que está sendo feito para atender as famílias que ficaram sem trabalho. Não houve resposta.