Pesquisadores da Unicamp e da Unifesp descobriram uma molécula capaz de inibir a reprodução do Trypanosoma cruzi, parasita responsável pela doença de Chagas. A pesquisa é financiada pela Fapesp, a agência de fomento à pesquisa do estado de São Paulo.
Chamada de Dasatinib, a molécula já é utilizada em um medicamento para tratamento da leucemia. Uma das vantagens seria a de atacar e inibir somente o parasita, o que não acontece com os remédios atuais, que também prejudicam as células humanas.
Segundo explicação do professor da Unifesp e um dos autores do estudo, Sergio Schwenkman, a doença de Chagas tem duas fases: a mais aguda, no início da infecção, e a crônica, que dura de 5 a 10 anos. Os medicamentos atuais são mais eficientes na fase aguda da doença, enquanto que na crônica, em dois a cada cinco casos, o tratamento não é eficaz.
O preço do medicamento usado para a leucemia é cerca de R$ 15 mil, um impeditivo para uso maciço no tratamento. Segundo a outra autora do estudo, a coordenadora do Centro de Química Medicinal da Unicamp, Katlin Massirer, foram testados quase 380 compostos químicos para buscar a eficácia no combate ao parasita sem considerar os eventuais custos. Conforme a pesquisadora, a possibilidade de o remédio ser usado em outras doenças, além da leucemia, pode eventualmente baratear o composto químico.
A doença de Chagas foi descoberta no início do século XX, pelo médico e biólogo Carlos Chagas, mas só depois de 60 anos se chegou a um tratamento. Sergio Schwenkman explica que isso ocorreu porque a doença era associada à pobreza, uma vez que o Barbeiro, inseto transmissor, vive em frestas de casas de barro. Além disso, muitos acreditavam, de forma equivocada, em ser uma doença autoimune.
O professor lembra que apesar dos avanços na construção de moradias, é preciso ficar atento às mudanças climáticas que podem alterar o habitat do inseto transmissor.
O processo de criação de um novo remédio dura, em média, 10 anos. De acordo com os pesquisadores, os testes iniciais em células no laboratório já duram cerca de 4 anos. Agora, eles buscam novas parcerias para as próximas fases que são testes em animais e, depois, em pessoas.