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Canonização de Anchieta foi adiada para adequação à agenda do papa

Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 02/04/2014 - 18:34
São Paulo

A assinatura do decreto de canonização do beato José de Anchieta foi adiada para se ajustar à agenda do papa Francisco. A informação foi transmitida hoje (2) pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer. “Não tem nada adiado. Simplesmente, por alguma razão, não coube na agenda do papa”, minimizou dom Odilo sobre a mudança. A proclamação do jesuíta, um dos fundadores da cidade de São Paulo, prevista para hoje (2), foi transferida para amanhã (3).

Ele disse que sabia da possibilidade de que a assinatura fosse postergada, desde a tarde de ontem (1º). “Tive a sinalização de que isso pudesse ocorrer ontem à tarde. Mas, foi hoje de manhã, às 6h30, que eu recebi um telefonema dizendo que isso [transferência] de fato se confirmava”, contou. Dom Odilo ressaltou que a decisão de canonizar Anchieta já está tomada. “É um fato confirmado, que a Igreja vai fazê-lo”, enfatizou.

Anchieta será canonizado junto com dois beatos nascidos na França, ligados à evangelização do Canadá: Maria da Encarnação Guyart e o bispo Francisco de Montmorency-Laval.

O arcebispo disse ainda que “não é raro, muito menos único”, o caso de Anchieta, que será considerado santo sem ter seus milagres comprovados. “O que importa é a vida santa, o exemplo de vida”, explicou dom Odilo. De acordo com ele, os atos sobrenaturais partem diretamente de Deus, e são apenas intermediados pelos escolhidos. “Não é o santo que faz milagre. É Deus quem faz o milagre”, disse, ao explicar porque a questão não é fundamental na canonização.

Segundo dom Odilo, a demora para o reconhecimento de Anchieta como santo está ligada a uma “campanha de difamação”, feita contra a ordem dos jesuítas. “Foram atribuídas muitas barbaridades, que eles não fizeram”, disse sobre as acusações de que a Companhia de Jesus fazia “batizados à força” e “escravizava indígenas”. O arcebispo lembrou que, no século 18, os jesuítas chegaram a ser expulsos do Brasil, por ordem do Marquês de Pombal.

José de Anchieta nasceu em 1534, na Espanha. Ingressou na Companhia de Jesus e, quando se tornou jesuíta, foi designado para o Brasil, em 1553, como missionário. Em 1554, chegou à capitania de São Vicente, onde, juntamente com o provincial do Brasil, padre Manoel da Nóbrega, fundou aquela que seria a cidade de São Paulo. No local, foi instalado um colégio e seu trabalho missionário começou.

Anchieta desempenhou intenso trabalho no colégio, o primeiro dos jesuítas na América, informou texto publicado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Ele ensinou a língua portuguesa aos filhos de índios e portugueses. O padre Anchieta também estudou a língua dos indígenas e compôs a primeira gramática da língua tupi. No mesmo idioma dos índios escreveu um catecismo, várias peças de teatro e hinos.

Ao longo dos anos percorreu o litoral, desde Cananeia, no sul de São Paulo, até o Recife, para acompanhar as várias missões que os jesuítas faziam no Brasil. No Rio de Janeiro, em 1582, iniciou a construção da Santa Casa de Misericórdia, destinada a assistir os doentes e as vítimas das frequentes epidemias.

Durante sua trajetória, deu atenção especial aos pobres e doentes, aos grupos indígenas ameaçados e aos negros escravizados. José de Anchieta morreu no dia 9 de junho de 1597, sendo reconhecido como o "apóstolo do Brasil".

José de Anchieta será o terceiro santo que tem ligação com o Brasil. Os outros dois são Madre Paulina, nascida em território inicialmente austríaco, hoje pertence à Itália, que viveu no Brasil e foi canonizada em 2002; e Frei Galvão, nascido em Guaratinguetá (SP) e canonizado em 2007.