Festival de cinema de Brasília presta homenagem a Eduardo Coutinho
O documentarista Eduardo Coutinho foi homenageado neste domingo (21) no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Especialistas em cinema, amigos e admiradores debateram a obra cinematográfica de Coutinho.
Para a documentarista Beth Formaggini, Coutinho deixa importante legado. “Com ele aprendemos muito sobre a ética, com a relação do diretor com o personagem, com as pessoas reais que ele transforma em atores. Ele radicaliza no filme, no jogo de cena, que você não sabe quem é o ator. A transformação da pessoa real em um ator que se autorrepresenta é uma coisa que ele conseguiu fazer e que deixa de herança”, disse Formaggini.
Além da homenagem, foi apresentada a segunda reimpressão do livro Eduardo Coutinho de Milton Ohata. O livro foi lançado em 2013, com a presença do cineasta, na Mostra de Cinema de São Paulo. É uma obra cronológica que reúne textos próprios de Coutinho, entrevistas e críticas.
“O Coutinho foi responsável por colocar o documentário brasileiro no mesmo nível do grande cinema de ficção brasileiro. Foi uma figura ímpar porque ele começou com um trabalho muito individual e, de repente, todo o trabalho dele virou uma referência para todos. Espero que a homenagem ajude a ampliar o público dos filmes dele e que o livro ajude a divulgar sua obra”, disse Milton Ohata.
Para Pedro Coutinho, filho do cineasta, Brasília foi um marco na carreira do pai, após a premiação de melhor filme para Santo Forte, na edição de 1999 do festival. “Ele teve momentos difíceis na carreira, e foi quando ganhou o prêmio em Brasília que voltou para o cinema de uma vez, com documentários em sequência para fazer o que ele pensava. Com a experiência e o apoio de amigos e produtores, ele conseguiu fazer só os filmes que ele queria, então era sempre muito feliz”, disse o filho Pedro.
Além do seminário e da apresentação de seis documentários, na terça-feira, no encerramento do festival, será exibida a cópia restaurada do filme Cabra Marcado para Morrer, de 1984. O filme é uma narrativa da vida de João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba, assassinado em 1962. As filmagens sobre sua história, interpretada pelos próprios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Após 17 anos, Coutinho retomou o projeto, cujo tema passa a ser o drama da família durante o regime militar.
Eduardo Coutinho, de 81 anos, foi encontrado morto no dia 2 de fevereiro, dentro de casa, no bairro da Lagoa, no Rio. Dois dias depois, o filho do cineasta Daniel Coutinho confessou o assassinato.