Relação entre pais e filhos é tema comum no último dia da mostra competitiva
A relação entre pais e filhos foi o eixo que uniu os dois curta-metragens e o longa exibidos ontem (23) no último dia da mostra competitiva do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Aplaudidos pelo público, Estátua!, La Llamada e Ela Volta na Quinta lotaram em plena segunda-feira o Cine Brasília. Cada um relatou, com diferentes elementos, aspectos de relações familiares: saudade, medo, amor e as picuinhas e belezas de uma rotina em família.
Ela Volta na Quinta estreou hoje no Brasil, mas foi exibido em julho, no 25º FIDMarseille - Festival Internacional de Cinema de Marseille, na França. O longa-metragem é descrito na sinopse com uma simples frase: "Alguém partiu, alguém ficou". Palavras que encerram "a crise de um casal de terceira idade e como essa crise afeta a vida dos filhos, que estão saindo de casa, namorando, é isso", resume o direitor, André Novais Oliveira.
O filme é repleto de cenas do cotidiano, como descascar e chupar uma laranja, tirar as roupas secas do varal, ou a engraçada dificuldade em retirar uma geladeira de casa. A inspiração do diretor não poderia ser mais legítima: os próprios pais, que são também os atores do longa-metragem. "Foi uma coisa super natural, gravamos dentro de casa. Foi uma experiência muito boa para eles e para mim", diz.
Oliveira é formado em história pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) Minas e em cinema pela Escola Livre de Cinema. Ele dirigiu os curtas-metragens Uma Homenagem a Aluizio Netto, Fantasmas, Domingo e Pouco Mais de um Mês, que foram selecionados para mais de 150 festivais de cinema no Brasil e no exterior, ganhando mais de 40 prêmios.
Estátua!, com essa palavra termina o curta de mesmo nome. É uma brincadeira assustadora da qual participam uma criança de 9 anos e a babá. A babá, que está grávida de seis meses e em crise quanto a ter ou não a filha, se vê presa cuidando de uma menina, ao que tudo indica, matou os bichinhos de estimação.
"O curta tem alguns elementos do horror. Escrevi o roteiro em 2010 e deixei um pouco na gaveta, até resgatá-lo em 2012", diz a diretora, Gabriela Amaral Almeida. "É um filme especial [para mim] porque é o que eu tenho cuidado nos últimos tempos". Ela é mestre em literatura e cinema de horror e tem especialização em roteiro pela Escuela Internacional de Cine y TV de Cuba. É diretora de A Mão que Afaga, curta exibido no 45º Festival de Brasília e que recebeu vários prêmios, entre eles, o de melhor curta-metragem de ficção, melhor roteiro e melhor montagem.
La Llamada, é um trecho da vida de Lázaro Escarze, um cubano de 87 anos, que terá o seu primeiro telefone instalado. O filme, em preto e branco, emociona com a cena em que Escarze simula uma ligação para o filho, que não vê há muitos anos.
"Me doeu muito, por que você fez isso comigo? Te amo muito e não esperava isso de você. É bom para o filme, mas me dói muito", diz o protagonista do documentário ao filho de consideração, que grava a cena, após simular a chamada. O filme é de Gustavo Vinagre, diretor e roteirista que estudou cinema na Escuela Internacional de Cine y TV de Cuba e letras na Universidade de São Paulo.
Frequentador assíduo do festival, o cineasta e documentarista Vladimir Carvalho, que participa de mesas e discussões nesta edição, elogia o festival e, sobre a produção da nova geração, diz que ainda é cedo para julgar. "Entendo que há uma onda de grande inquietação criativa e uma busca. É um festival em que se busca, especialmente no plano da linguagem, mas ainda é cedo para julgar isso". Carvalho é diretor de 12 filmes, entre eles O Evangelho Segundo Teotônio (1984), O Engenho de Zé Lins (2007) e Rock Brasilia - Era de Ouro (2011).
A premiação ocorre nesta terça-feira. As equipes dos filmes exibidos nesta noite participam amanhã, às 10h, de debate no Hotel Mercure Brasília Eixo. A entrada é franca.