Zuenir Ventura toma posse na Academia Brasileira de Letras
O jornalista e escritor mineiro Zuenir Ventura tomou posse na noite de hoje (6) na Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo o dramaturgo, poeta e romancista Ariano Suassuna, que morreu no dia 23 de julho de 2014. A solenidade foi no tradicional prédio da ABL, o Petit Trianon, e reuniu artistas, intelectuais e jornalistas.
No discurso de posse Zuenir Ventura fez uma relação entre a chegada dele à ABL e a de Ariano Suassuna e da emoção de se tornar um imortal. “No seu discurso de posse em 9 de agosto de 1990, Ariano revelou que, desde menino, sabia que um dia chegaria aqui como imortal, ao contrário de mim, que jamais sonhei em alcançar essa glória. Pode-se então imaginar a emoção deste filho e ajudante de um pintor de parede, em estar sendo acolhido neste templo do saber com tanta estima e consideração.”
Zuenir destacou ainda que conheceu os personagens de O Auto da Compadecida, escrito por Ariano, antes de ser apresentado ao romancista. Para Zuenir, a obra do escritor paraibano é um marco no teatro brasileiro. “Por sua excelência artística, [O Auto da] Compadecida significou uma vitória contra o preconceito social vigente de que os valores rurais representavam o atraso. Em plena era JK, naquele clima de efervescência cosmopolita que gerou a Bossa Nova, o Cinema Novo, a nova arquitetura, o Teatro de Arena, a Poesia Concreta, o distante sertão nordestino trazido por Suassuna para o Sudeste representou um marco no teatro brasileiro.”
O jornalista e escritor mineiro concluiu o discurso de posse dizendo que Ariano, embora tratasse do tema da morte em suas obras, não gostaria de morrer. “Apesar da relação amistosa que manteve com a Caetana [como o escritor chamada a morte] em sua obra, Ariano não queria morrer. Ele acreditava que a literatura era uma maneira de protestar contra a morte, uma forma precária, mas, ainda assim, poderosa de afirmar a imortalidade. ‘O homem não nasceu pra morte’, afirmava [Ariano], ‘o homem nasceu para a vida e para a imortalidade’. Exatamente como ele, sertanejo universal, Ariano Vilar Suassuna genial”.
Coube à acadêmica, professora e escritora Cleonice Berardinelli fazer, em nome da instituição, o discurso de recepção de Zuenir, eleito no dia 30 de outubro do ano passado. Cleonice lembrou que, além dele, foi professora de quatro outros imortais – Ana Maria Machado, Antônio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Afonso Arinos de Melo Franco. A Divina Cléo, chamada assim pelo jornalista em uma crônica publicada em jornal, conforme indicou no discurso, disse que a ida de Zuenir para a Academia representa mais um motivo para estarem juntos.
“E eu lhe desejo, Zuenir, todas as felicidades do mundo dentro desta nossa Academia, onde você agora se torna meu confrade, meu confrade dileto, que, além de tudo, integra o grupo dos meus ex-alunos. Bem-vindo, Zuenir! E, relembrando versos muito conhecidos do velho amigo Manuel Bandeira, um confrade que aqui nos precedeu, digo convicta: Entre, Zuenir, você não precisa pedir licença!”, desejou a acadêmica e ex-professora.
Em seguida, o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, convidou o decano Eduardo Portella para a cerimônia de entrega da espada. A aposição do colar foi feita pelo acadêmico Merval Pereira e a entrega do diploma, pelo acadêmico Domício Proença Filho.
Zuenir Ventura tem 83 anos e é casado com Mary Ventura há 51. O casal tem dois filhos, Elisa e Mauro. O imortal é bacharel e licenciado em letras neolatinas, jornalista, ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A Cadeira 32 tem fundador o jornalista, professor e poeta Carlos de Laet e tem como patrono o poeta, professor, jornalista, diplomata e teatrólogo Araújo Porto-Alegre. Depois foi ocupada por Ramiz Galvão, Viriato Correia, Joracy Camargo, Genolino Amado e Ariano Suassuna.