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Encontro no Rio resgata presença do negro no cinema

Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 27/05/2015 - 15:45
Rio de Janeiro

Começa hoje (27), no Rio de Janeiro, o 8º Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe. O evento, que permitirá a troca de experiência entre diretores de diversas nacionalidades, visa a resgatar a presença do negro no cinema nacional e internacional.

A abertura será no Cine Odeon, na Cinelândia, com a exibição, às 18h, do filme Morbayassa, do guineense Cheick Fantamady Camara. As sessões ocorrem também na Biblioteca Parque e no museu de Arte do Rio, com entrada gratuita. O Odeon também recebe no período um ciclo de palestras sobre o tema. A programação completa está disponível na internet.

Para o curador do encontro, Joel Zito Araújo, a ideia é preparar os negros para falarem com o Brasil inteiro, não apenas no “gueto” do movimento negro.

“Existe uma naturalidade das narrativas, como se o ser humano fosse naturalmente branco e o negro ou o índio exceção. Há muita história para contar, não só da população negra, mas da representação do Brasil como um país da diversidade racial. Não queremos ficar no gueto nem ficar falando para o gueto”.

Ele explica que foram selecionados filmes de cineastas negros que tratam de temas diversos. “A temática negra não é só a discussão do racismo, [envolve também] aspectos da cultura negra. É um olhar do negro sobre o mundo, sobre a sua contemporaneidade”.

Araújo disse que o encontro – que é o mais importante da América Latina - conta este ano com o triplo de participantes negros inscritos. “Hoje efetivamente há uma nova geração [de participantes negros]: no Rio, o pessoal do Nós do Morro e o pessoal da Cufa; na Bahia há um núcleo negro importante; em São Paulo também. Estamos em um novo momento no Brasil”.

Segundo ele, o negro “deixou de ter vergonha de ser negro e começou a dizer: queremos mostrar o nosso ponto de vista sobre a realidade, os nossos sonhos, os nossos desejos, as nossas angústias, as nossas vergonhas, as nossas alegrias”.

A escritora Ana Maria Gonçalves, que também participa do evento, comentou o universo da cultura negra. “O universo que a gente retrata ao contar histórias, ao escrever, ao fazer cinema, ou seja o que for, é um universo muito próprio nosso, das nossas experiências pessoais e até experiências internas. Acho que a importância de se ter mais negros em posição de escolha, do que contar e como contar, [permitirá que eles contem] histórias próprias, de experiências, que não têm sido contadas pelo mercado branco elitizado”, acrescentou.

Ela destaca que a oralidade e a tradição de contar histórias do povo negro, pouco valorizada ao longo da história, pode ser resgatada com a produção cinematográfica. “Por anos, a oralidade do negro não foi considerada literatura e, em muitos lugares, ainda não é. Talvez o cinema realize essa nossa luta de escritores negros para que a oralidade seja considerada literatura”.

O escritor e roteirista Paulo Lins disse que o cinema negro pode ter a seguinte definição: pessoas negras fazendo cinema. “O pessoal negro está fazendo cinema. Antes não fazia. Só quem fazia era branco. [O negro] está ganhando espaço, está produzindo, [usando] novas tecnologias, fazendo videoclipe, botando no Youtube”.