Espetáculo teatral promove inclusão cultural de crianças surdas
Um público especial de quatro cidades dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, formado por crianças surdas, vai assistir gratuitamente, este mês, a um espetáculo concebido inicialmente por estudantes de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), agora profissionais de teatro, com a finalidade de inclusão de crianças com deficiência auditiva.
O começo de tudo foi um convite do professor da UFPE, Marco Camarotti, para que seus alunos participassem de um grupo de pesquisa sobre o universo da criança. Ao final do processo, ele desafiou os estudantes a montar quatro pequenos espetáculos voltados para crianças com deficiências auditiva, visual, mental e crianças hospitalizadas.
Um dos alunos, Jorge de Paula, decidiu focar seu trabalho em crianças com perdas auditiva e visual, além de responder a outro desafio, que era dar aulas de teatro para crianças surdas. “O meu universo com crianças surdas terminou ganhando uma atenção especial”, disse Jorge. Ele escreveu um conto de fadas para responder à indagação de Marco Camarotti por que o arco-íris só aparecia quando chove. O conto deu origem ao espetáculo De Íris ao Arco-Íris, que tem o patrocínio dos Correios. “Eu tinha que responder de alguma forma artística”. O conto de fadas narra a história da lagarta Íris, que faz de tudo para chegar ao reino encantado.
A primeira montagem foi apresentada em vários locais e se destinava tanto a crianças surdas, como a ouvintes. “A gente percebeu quão frágil a estrutura do espetáculo ainda estava. Porque tudo que a gente aprendeu em sala de aula, em gabinete, na prática não se configurava a melhor linguagem para atingir esse público específico”. O entusiasmo diminuiu com a morte do professor e grande incentivador do projeto, que acabou suspenso. Dois anos depois, a questão voltou a agitar Jorge de Paula, que decidiu retomar a experiência, solucionando os entraves identificados anteriormente.
Aliando-se à atriz Andréa Veruska, começou a escrever um projeto e a buscar patrocínio, e ganhou dois editais para montagem. É esse novo espetáculo De Íris ao Arco-Íris que vai circular agora no eixo Rio de Janeiro/São Paulo. “Porque são cidades que têm um movimento de entidades e associações que trabalham na valorização e na inclusão de crianças e pessoas com deficiências de uma forma geral. Porque o interessante para nós, agora, é entrar em contato direto com o público surdo”. No Rio e em São Paulo, há um movimento muito forte nesse sentido, disse. Em Recife, isso é difícil, segundo De Paula, porque o público ouvinte é muito maior do que o público com deficiência auditiva.
Durante a encenação, os atores trabalham apenas com imagens. Destinada a crianças surdas alfabetizadas ou não, a partir de 4 anos de idade, a peça será apresentada nos dias 16 e 17 deste no Teatro Municipal Gonzaguinha, no centro do Rio, às 15h30, antes de ir para o Teatro Municipal Teophilo Massad, no município de Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense, onde poderá ser visto no dia 19, às 16h, e no dia 20, em duas sessões, às 16h e às 20h.
Nos dias 25 e 26 de novembro, o espetáculo será apresentado no Teatro Mube Nova Cultural, na capital paulista, às 15h, seguindo para o Teatro do Sesc Santos, também em São Paulo, nos dias 27, às 16h, e no dia 28, às 17h30. A turnê engloba ainda a realização de oficinas Brincando com Sombras para crianças surdas. Jorge de Paula já está escrevendo os próximos projetos com a meta de percorrer cidades do Nordeste, que apresentam grau alto de pessoas e crianças com deficiências.
Com apoio do governo estadual, por meio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), o conto De Íris ao Arco-Íris será transformado em livro, para distribuição gratuita em um kit, junto com cartões ilustrados, sem escrita, para o público surdo poder “ler” a história por meio de imagens, além de um audiolivro, visando atingir o público cego, alfabetizado ou não. “A ideia é que no próximo ano as ações sejam vinculadas à apresentação do espetáculo, à conversa após a encenação, à leitura dramática do conto para os cegos e à distribuição gratuita do audiolivro para o público cego também assistir às apresentações”.
O circuito deverá abranger também a Região Norte, que tem menos entidades e associações voltadas para pessoas com deficiências. “Você tem poucas pessoas reivindicando ou propondo ações que possam proporcionar a inclusão das pessoas com deficiências nas atividades de uma forma geral e, no nosso caso específico, no teatro”, disse Jorge de Paula.