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Bloco de rua ligado à saúde mental desfila arte e protesto no carnaval carioca

"Loucura Suburbana" pediu passagem e ocupou as ruas do Engenho de
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 04/02/2016 - 22:23
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Bloco Loucura Suburbana reuniu pacientes, parentes e profissionais da rede de saúde mental em desfile pelas ruas do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro (Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil)
© Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

banner_carnaval_2016Rio de Janeiro - Bloco de Carnaval Folia Suburbana, no Rio de Janeiro (Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil)

Bloco Loucura Suburbana reuniu pacientes, parentes e profissionais da rede de saúde mental em desfile pelas ruas do Engenho de Dentro, no Rio de JaneiroCristina Indio do Brasil/Agência Brasil

O bloco Loucura Suburbana pediu passagem e ocupou hoje (4) as ruas do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio de Janeiro. No samba-enredo, o bloco – que está comemorando 15 anos, cantou o caminho para um bom tratamento para a saúde mental. “Viajando nesta aventura / Onde a arte e a cultura/ Vem brincar o carnaval/ Pintura, inclusão e poesia/Traz amor e harmonia/ Para a saúde mental”, diz a letra.

Segundo o coordenador musical do Loucura Suburbana, Abel Luiz Oliveira da Silva Machado, o bloco é o primeiro com integrantes da rede de saúde mental com foco em atividade musical, de expressão artística, cênica e plástica.

Antes do desfile, os foliões se concentraram no pátio e na entrada do Instituto Nise da Silveira, na Rua Ramiro Magalhães. De acordo com a organização, o cortejo desta tarde reuniu cerca de 300 pessoas. Eram moradores do bairro, pacientes, parentes e profissionais da rede de saúde mental. “É uma construção coletiva que vai desde a composição do samba, da formação da bateria, o tema, as ideias do desfile. Tudo é produzido coletivamente”, destacou Abel Luiz.

Para o músico, no entanto, o bloco não é uma atividade terapêutica. “É equipamento de cultura. A gente está aqui não para discutir quem é paciente e quem não é. A gente está aqui para discutir como a gente quer que as pessoas sejam tratadas. Aqui não tem paciente ou médico. Aqui tem o Jorge, tem o Abel, tem o Fernando”, explicou. A avaliação do coordenador musical coincide com outra parte do samba-enredo. “E a loucura onde está? Sou louco eu ou você? A diferença está nos olhos de quem vê!

Rio de Janeiro - Bloco de Carnaval Folia Suburbana, no Rio de Janeiro (Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil)

O Loucura Suburbana existe há 15 anos e tem foco em atividade musical, de expressão artística, cênica e plástica para integrantes da rede de saúde mental Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Causa séria

Em meio à descontração, também houve momento de protesto de um grupo de profissionais do Espaço Aberto ao Tempo, criado a partir da Enfermaria de Portas Abertas, que funciona no Instituto Nise da Silveira.

A assistente social Viviane Fonseca explicou que os profissionais defendem a saída do projeto da unidade de assistência manicomial. “A gente precisa sair do espaço manicomial e nada melhor do que o momento em que o Loucura invade a rua para que também possamos reafirmar esse nosso desejo de sair desse espaço, que hoje não comporta mais as nossas práticas”, destacou.

Segundo Viviane, o Espaço Aberto ao Tempo funciona como um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que integra a rede substitutiva ao atendimento hospitalar. “Muitos pacientes não acessam o tratamento por estarmos dentro de um hospital psiquiátrico”, apontou.

O coordenador musical do bloco também aproveitou o desfile para protestar. Abel Luiz criticou a nomeação do coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, Valencius Wurch. Segundo o músico, o médico tem práticas contrárias ao que prega a luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica, que prioriza cuidados psicossociais e evita o isolamento e a internação de pacientes.

O Loucura Suburbana funciona o ano inteiro em uma das instalações do Instituto Nise da Silveira, com oficinas gratuitas de música, ateliês de arte, escola popular de informática, sala de exposição e uma editora que já publicou mais de 40 títulos. O bloco tem ainda um ateliê de fantasias que funciona em um galpão chamado de barracão.

“Ao longo do ano, a gente realiza oficinas abertas a todo tipo de público, de idade e sexo. A ideia é que, ao mesmo tempo que a gente quer colocar as pessoas em sociedade, a gente quer recolocar a sociedade civil nas questões da reforma psiquiátrica. Um dos nossos convites de participação para desconstruir o manicômio e o modelo asilar é estar com a gente tanto na rua, quanto aqui dentro propondo formas diferentes de solidariedade, de convivências, de trânsito e de experimentação da vida”, disse o músico.