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Câmara de São Paulo aprova lei que torna patrimônio obra de Adoniran Barbosa

Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 21/11/2016 - 12:47
São Paulo

A Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou projeto de lei que declara como patrimônio histórico e cultural a obra do sambista Adoniran Barbosa. A proposta do vereador Toninho Paiva (PR) foi enviada para sanção do prefeito Fernando Haddad, na última quinta-feira (17).

Pelo texto, a municipalidade passará a ser obrigada a garantir a preservação de toda a obra do artista, “incluindo as composições e poesias”. Ou seja, agora fazem parte oficialmente do patrimônio cultural paulistano, as canções Trem das onze, Saudosa Maloca, Tiro ao Álvaro, Iracema e Samba do Arnesto.

Adoniran era o pseudônimo do cantor compositor João Rubinato, nascido em 1910, em Valinhos, na região de Campinas. Como conta a biografia anexada ao projeto de lei, na juventude, o músico abandonou os estudos e trabalhou como entregador de marmitas, encanador e garçom.

Após arrumar um emprego na capital paulista, aos 22 anos, passou a participar de programas de calouros em rádios. Em 1941, foi trabalhar na Rádio Record como ator cômico e locutor. Foi lá que conheceu o grupo Demônios da Garoa, com quem teve longa e próspera parceria.

Poesia com erros gramaticais

O modo de falar simples e com pequenos erros gramaticais é uma das marcas da obra de Adoniran, conforme destaca a justificativa do projeto de lei. Em alguns casos, aparece em um jogo de palavras, como o apaixonado Álvaro, que também é um jogo de palavras com “alvo” em Tiro ao Álvaro. O personagem é o destino certo das frechadas [flechadas] disparadas pelo olhar da moça, mais mortíferas do que veneno estriquinina e bala de revorver .

A partir dessa poesia, identificada com as camadas menos favorecidas da população, Adoniran contava histórias de eventos diários que, às vezes, chegavam à crítica social, como no despejo de Saudosa Maloca. “Peguemos todas nossas coisas e fumo pro meio da rua, apreciá a demolição/ Que tristeza que nós sentia/ Cada táuba que caía, doía no coração”, compôs Adoniran, dando voz aos sem-teto que observam a derrubada do imóvel onde tinham vivido nos últimos anos.

Por esse tipo de sensibilidade, o vereador ressalta que o compositor “retratou com maestria o cotidiano paulistano”, o que justifica a preservação de seu trabalho.

Adoniran morreu em 1982, aos 72 anos.