Boitatá e Boi Tolo levam foliões ao centro do Rio e defendem carnaval inclusivo


O bloco Cordão do Boitatá anima foliões no tradicional baile multicultural na Praça XV
Foliões que saíram cedo às ruas do centro Rio de Janeiro nesta manhã (11) contaram com duas opções tradicionais do carnaval da cidade. O Cordão do Boi Tolo se concentrou na Candelária às 7h e desfila desde então. Já o Cordão do Boitatá deu início às 10h ao seu baile multicultural na Praça XV, apenas 600 metros de distância da Candelária.
A proximidade dos nomes não é ao acaso: a história de ambos se confundem. O Boitatá veio primeiro, tendo sido fundado em 1996. Em 2000, o bloco que hoje é formado por mais de 100 músicos profissionais e amadores adotou como palco principal a Praça XV, com o objetivo de levantar a discussão sobre o processo de ocupação e revitalização do centro do Rio de Janeiro. Desde então, anualmente são levados para o local milhares de foliões no domingo de carnaval.
Dez anos depois, surgiu o Boi Tolo de uma maneira inusitada. Na ocasião, a Praça XV reunia muitos foliões aguardando um desfile do Cordão do Boitatá, que acabou não ocorrendo para a frustração dos presentes. Logo, porém, surgiu uma bateria improvisada com trompete, tamborim e outros instrumentos.

O Cordão do Boi Tolo desfila pelas ruas do centro da cidade arrastando uma multidão de foliões
"O Boi Tolo não é um bloco. É uma catarse", diz o artista plástico Angelo Morse, que garante sua presença todos os anos. Após se concentrar na Candelária, o bloco se dividiu em vários grupos que seguiram por caminhos diferentes, mas que vão se reencontrar em algum momento. Os trajetos não são pré-definidos e aqueles que têm interesse em acompanhar o cortejo precisam procurar por um dos grupos.
Os dois blocos possuem participantes fiéis. "É o bloco favorito da família", conta a jornalista Ana Serra, que curtia o Cordão do Boitatá. O grupo de familiares trazia uma fantasia bem peculiar: integrantes da Força Nacional. "A situação do Rio não está fácil. Então estamos dando uma reforçada na segurança", disse a foliã entre risadas. "Mas é como um protesto. Ontem presenciamos um arrastão", lamentou.
Segundo Ana, o Boitatá lhe atrai porque reúne diversas tribos e o bloco traz posicionamentos políticos importantes. Pouco antes, no palco, os músicos fizeram críticas ao governo federal e à prefeitura do Rio. A mesma observação é feita pelo assistente administrativo Vinícius de Lima. "Me identifico muito o que eles buscam. E eu acho que carnaval é isso. Nós brincamos, mas também não esquecemos da nossa responsabilidade como cidadãos".

Para produzir a peça, foram gastos três sacos de pipoca, diz Vinícius
Vinícius foi mais um que se destacou pela originalidade. Ele e um amigo estavam fantasiados de saco de pipoca. "Estávamos cansado da mesmice", esclareceu. Para produzir a peça, foram gastos três sacos de pipoca. Segundo o folião, a fantasia levou dois dias para ficar pronta, mas valeu a pena. "Até o tempo cooperou. Com esse sol intenso, continuo pipocando. Eu pensei que ia ser fácil, mas está bem salgado", brincou.
Carnaval inclusivo
Assim como o Boitatá, o Boi Tolo também traz um discurso político voltado para inclusão social e levanta a bandeira por um carnaval participativo, com democracia e diversidade. Por outro lado, os modelos de apresentação dos dois são distintos. O Boitatá realizou um desfile pelas ruas da Lapa no domingo (4) de pré-carnaval, mas no domingo de carnaval, o bloco é parado, utilizando uma estrutura de palco na Praça XV.
O Boi Tolo é contrário ao uso de palcos, trio elétricos e até cordas. A separação entre a banda e os foliões é feita por uma roda de pessoas com as mãos dadas. Apesar desse posicionamento, não chega a existir uma rivalidade com o Boitatá na visão do oficial de náutica Thiago Rocha da Silva. "Tem essa divergência, mas é carnaval e o Boi Tolo é só amor".
Thiago desfila no Boi Tolo anualmente e neste ano acompanha o bloco junto com a turma dos pernas de pau. "Boi Tolo é isso: não é ninguém e é todo mundo ao mesmo tempo. É só chegar e participar. É essa loucura aqui no domingo de carnaval. Tem que descobrir onde está o bloco porque não dá pra perder".
Cordão do Boitatá na Praça XV, no Rio de Janeiro
