Festival celebra centenário da líder camponesa Elizabeth Teixeira
![Vanessa Nicolav/Divulgação Brasília (DF) 12/02/2025 - A líder camponesa e protagonista do filme Cabra marcado para morrer, Elizabeth Teixeira, é homenageada no Festival da Memória Camponesa. Foto: Vanessa Nicolav/Divulgação](/sites/default/files/thumbnails/image/loading_v2.gif)
Elizabeth Teixeira, histórica líder camponesa paraibana, celebra 100 anos de vida nesta quinta-feira (13) e será homenageada no Festival da Memória Camponesa. O evento será realizado de hoje (13) até o próximo sábado (15) no município de Sapé, na Paraíba. Ela foi companheira de João Pedro Teixeira, símbolo de resistência da luta no campo e fundador da Primeira Liga Camponesa da Paraíba, organização criada nos anos 1950 para defender os direitos dos trabalhadores do campo.
O diretor de cinema Eduardo Coutinho, já falecido, um dos mais renomados do Brasil e conhecido por filmes como Edifício Master e Jogo de Cena, mostrou a história da família Teixeira, no filme Cabra marcado para morrer, de 1984.
João Pedro era jurado de morte por latifundiários da região, situação que se consumou em Sapé (PB), em 1962, e o diretor de cinema desejava retratar. Agentes da repressão, contudo, cercaram a locação e ordenaram a interrupção das filmagens, que foram reiniciadas somente 17 anos depois.
O ano era 1964, quando os militares deram um golpe de Estado, instalando a ditadura que duraria 21 anos, e o set de filmagem era a violenta zona rural do Brasil, que até hoje ostenta índices assustadores, como denuncia anualmente a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Coutinho tinha começado a captar imagens em Engenho Galileia (PE), município a 50 quilômetros do Recife, dois anos depois do assassinato de João Pedro Teixeira, quando foi proibido de continuar.
No período da retomada, já em 1981, Elizabeth vivia com outra identidade, para se proteger, em uma cidade no interior da Bahia, longe de nove de seus dez filhos. Cada um deles se escondeu em um canto do país. Elizabeth tinha se tornado Marta Maria da Costa e dava aulas. Descobrir seu paradeiro, inclusive, não foi tarefa fácil para Coutinho.
A segunda parte do longa-metragem abre mais o microfone para Elizabeth, que narra como foi passar os dias na clandestinidade. Cabra marcado para morrer já figurou em diversas listas especializadas da área. Em 2015, ocupou o 4º lugar da relação dos 100 filmes mais importantes da cinematografia nacional, da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Eduardo Coutinho também prolongou o contato com a história dos Teixeira e, em 2013, gravou o média-metragem A família de Elizabeth Teixeira.
Memorial na Paraíba
No Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, instalado na casa onde Elizabeth viveu com sua família, na Comunidade de Barra de Antas, na zona rural de Sapé, será aberta nesta sexta-feira (14) a exposição "100 faces de Elisabeth Teixeira". A entidade também aproveitará a data para lançar seu acervo digital, com documentos, imagens e registros relacionados ao tema.
O observatório De olho nos ruralistas realizou, em 2023, outro documentário sobre a líder paraibana, que leva seu nome. Diretor e editor-chefe do veículo e projeto, o jornalista Alceu Luís Castilho ressalta que o primeiro filme de Eduardo Coutinho sobre João Pedro Teixeira e sua viúva, Elizabeth Teixeira, revela tanto um momento do país em que a reforma agrária "já era demonizada pela direita" quanto a influência das Ligas Camponesas em movimentos sociais que emergiram durante a redemocratização, entre eles, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que surgiu em 1984, no interior do Paraná.
"A gente não pode perder de vista que a história principal das camponesas no Brasil é da invisibilidade. A própria Elizabeth, em vários momentos da vida dela, ficou invisível, depois do filme de Eduardo Coutinho. E tantas outras camponesas, centenas, milhares têm suas histórias similares, inclusive, de violência", diz o jornalista.
Na avaliação de Castilho, a luta de Elizabeth e seu marido pelo direito à terra e pela reforma agrária continua inconclusa. "A reforma agrária precisa ser pautada. Ela ainda não foi do modo como deveria, pela mídia, pelos governos", afirma.
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