Professores improvisam prática esportiva em escolas do Rio
Pela zona oeste do Rio, proliferam-se os campinhos de futebol, alguns dos poucos espaços públicos para a prática de esporte. As escolas, assim como os campinhos e a própria rua, muitas vezes, representam o único contato das crianças e dos adolescentes com o esporte.
A Escola Municipal Guimarães Rosa, no bairro de Magalhães Bastos, é uma das incluídas no projeto Rio 2016, que incluiu novos esportes, como o rugby e o badminton, na educação física. A escola também é contemplada pelo programa Mais Educação, do governo federal, que oferece aos alunos atividades como a capoeira e o judô no contraturno das aulas regulares.
A diretora da escola, Jorgina Rodrigues, diz que as aulas voltadas ao esporte fazem diferença no ambiente escolar. “A gente sabe que a educação física na escola tumultua um pouco o ambiente para quem não está acostumado, mas a gente vê a diferença no aluno, na questão do respeito, da disciplina, da amizade, eles mudam de comportamento. É uma escola agitada, mas no bom sentido, porque isso vem trazendo um legado para eles mesmos”.
Fernanda Fernandes, 14 anos, gosta das aulas em que o esporte é o foco. “Eu me divirto, eu faço esporte que eu gosto, eu aprendo as coisas, gosto de conversar um pouquinho”. Lucas Carvalho, 12 anos, espera melhorias na escola. “A quadra está começando a rachar, era bom restaurá-la e também os materiais para fazermos educação física, e também ter uma cobertura”.
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Mesmo com o título de unidade de referência, a escola tem apenas uma quadra, descoberta, para realizar todas as atividades. A diretora sonha com um espaço mais estruturado. “O ideal seria ter uma escola com um espaço físico adequado, que tivesse, por exemplo, um lugar para os alunos tomarem um banho.”
Apesar de fazer parte de projetos de incentivo ao esporte, a escola ainda tem alguns gargalos a ultrapassar. Os professores Flávio Abdala e Marcos Matos mostram as bolas que, além de murchar com pouco tempo de uso, são feitas de um material de baixa qualidade que descola depois de algumas partidas. A quantidade de alunos nas turmas pode chegar a 40 e os uniformes são inadequados.
“É um short que a menina não quer usar, parece uma fralda, eu usei o short para dar um incentivo a eles, o short abriu no meio. Então, eu, sinceramente, fico chateado, nem cobro por causa disso. A gente não tem como comprar [outro uniforme], eu não posso exigir, a escola também quer que eles venham com o uniforme adequado e a gente fica nesse impasse”, relata Abdala.
Para fugir do sol, Matos conta que foi preciso inovar. Para isso, improvisaram um equipamento para a prática de arvorismo. “A gente amarra uma corda de uma árvore até a outra e ensina a técnica para os alunos. Foi o jeito de aproveitar a sombra das árvores.”
Para ele, a realização da Copa no Brasil é motivo de festa, mas diante de tantas prioridades na cidade, o Mundial perde o glamour. “Muito dinheiro foi gasto para isso, mas quando você vê a educação, a segurança, a saúde, os hospitais sem espaço para atendimento. O dinheiro que poderia ser investido nisso está sendo gasto em campo de futebol para mostrar para o mundo que o Brasil tem condições de fazer um Mundial, mas no que deveria investir mesmo, que é na estrutura do país para o povo brasileiro viver melhor, não está sendo investido.”
Segundo a Secretaria de Educação, das 1.004 unidades da rede municipal, 369 não têm quadras. Entre essas, 172 não têm espaço para a construção das quadras e atividades esportivas são feitas em clubes ou associações. A prefeitura promete a construção de 25 novas quadras de esporte até o final do ano.
O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Rádio do 7º Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos para a Infância (Unicef).