Falta de indicação de terrenos pode levar Rio a perder três campi
O Rio de Janeiro corre o risco de perder três campi universitários. A prefeitura não indicou terrenos para os novos polos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), de ensino técnico, cursos universitários e pós-graduação. Há três anos, o Ministério da Educação (MEC) disponibilizou verbas para erguer as unidades no Complexo do Alemão, em Jacarepaguá e no centro. A prefeitura, no entanto, não indicou os terrenos.
De acordo com o reitor do IFRJ, Paulo Roberto de Assis Passos, o acordo entre a prefeitura e o ministério se encerrou no ano passado e as verbas estão para ser recolhidas pela União. Sem a indicação clara de onde as unidades serão instaladas, não há como manter a previsão de gastos no orçamento. Assis Passos cobra uma definição urgente da prefeitura sobre os terrenos.
"O plano de expansão do instituto, onde estão enquadrados os campi do Rio de Janeiro, ia de 2011 a 2014. Então, este ano, o empenho da prefeitura deve ser maior ainda para que o MEC entenda que é uma ação efetiva e abra, de novo, espaço para concretizar essas unidades”, explicou o reitor, em relação à manutenção, no orçamento da instituição, do dinheiro para erguer os campi. “Lembre-se que estamos em ano de contenção de gastos”, completou.
Em visita ao Rio de Janeiro, na semana passada, o ministro da Educação, Cid Gomes, prometeu conversar com a prefeitura para indicar as áreas. Lembrou que a construção das unidades tecnológicas no Complexo do Alemão, na zona norte, e na Cidade de Deus, na zona oeste, complementa o projeto de pacificação das forças de segurança. Nos dois complexos foram instaladas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos últimos anos.
O reitor da UFRJ acrescenta que, além do Complexo do Alemão e da Cidade de Deus, a prefeitura havia se comprometido a ceder o Centro de Artes Calouste Gulbenkian para a instalação da unidade do centro, mas também não concretizou o termo de compromisso. No local, atualmente, são oferecidas oficinas de artes plásticas, gráficas, cênicas e visuais, por exemplo.
A prefeitura informou que “está empenhada em ajudar o IFRJ, mas não tem terrenos nas especificações solicitadas”. Em nota, disse que vai procurar áreas “com outros entes da Federação”, mas não mencionou a cessão do Centro de Artes Calouste Gulbenkian.
A comunidade do Complexo de Alemão está inconformada com a justificativa. O coordenador-geral da organização não governamental Raízes em Movimento, que atua no Alemão, Alan Brum, diz que galpões vazios na comunidade poderiam receber o campus. Ele lembra que o terreno originalmente oferecido para o IFRJ foi cedido à Coordenadoria de Polícia Pacificadora, que poderia ser deslocada para a Cidade da Polícia, que fica apenas a 2 quilômetros do Alemão.
“Temos aqui vários galpões gigantescos, desocupados, sem uso, como o da antiga fábrica da Tuffy, que poderiam receber o campus”, citou Alan Brum. Para ele, uma das opções é a desapropriação de um deles. “A prefeitura já fez tanta desapropriação, inclusive sem diálogo com a comunidade, então, se ela quiser desapropriar, ela desapropria. A responsabilidade é dela”, afirmou.
Além da oferta de cursos profissionalizantes e universitários no local, a instalação do campus poderia mudar a vida da comunidade, acredita o coordenador. “A vinda de uma universidade pública para cá causa impacto positivo em todas as outras políticas, como a de segurança, inclusive, que terá de melhorar, e o saneamento. O IFRJ se transformará em um observatório e contribuirá em todos os aspectos para o desenvolvimento local do Alemão”, explicou.
A ONG fez um abaixo-assinado para sensibilizar o prefeito do Rio, Eduardo Paes.