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Direitos Humanos

Yanomamis impedem profissionais da saúde de deixar terra indígena em Roraima

Alex Rodrigues* – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 06/05/2015 - 13:23
Brasília

Há cinco dias, índios yanomamis impedem um grupo de servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) de deixar a reserva da etnia na região de Surucucus, noroeste de Roraima. Os yanomamis cobram a exoneração do secretário nacional de Saúde Indígena, Antônio Alves, e da responsável pelo Distrito Especial de Saúde Indígena (Dsei-Y), Maria de Jesus Nascimento. Os Dseis são unidades gestora descentralizadas do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS).

A Sesai informou que já está tomando as medidas legais para retirar os 13 profissionais que permaneciam no local até o início da manhã de hoje (6). Inicialmente, 20 agentes de saúde, técnicos de enfermagem e outros profissionais foram impedidos de deixar o local. As equipes multidisciplinares estavam no Polo Base de Saúde atendendo aos índios que vivem na Terra Indígena Yanomami – inclusive para providenciar a remoção para Boa Vista das pessoas que precisam de atendimento de média e alta complexidade. A Sesai é vinculada ao Ministério da Saúde e coordena a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

De acordo com Dário Vitório Kopenawa Yanomami, coordenador de Políticas Públicas da Hutukara Associação Yanomami, cuja sede fica em Boa Vista, o protesto indígena é pacífico e os profissionais não estão sendo ameaçados. Kopenawa afirma que o atendimento aos índios em todo o país é precário e que, na Terra Indígena Yanomami, a situação é agravada pela presença de garimpeiros.

“Há muitos problemas em todas as áreas indígenas. Na reserva Yanomami, um problema é a presença do garimpo. Onde há porta de entrada a invasores e garimpeiros que poluem nossos rios com mercúrio há malária, diarreia e outras doenças”, observou Dário. Segundo ele, o número de casos de câncer entre os índios da região tem crescido.

“Temos brigado para tentar melhorar a qualidade do atendimento, mas não conseguimos, porque o sistema é muito grande e há muitos interesses. A estrutura dos polos base são antigas, os remédios estão demorando a chegar e os profissionais precisam de qualificação”, acrescentou Kopenawa.

Acionada pela diretora do distrito indígena, Maria de Jesus, a Polícia Federal (PF) já ouviu o depoimento de servidores da Sesai que deixaram a área e acompanha a evolução das negociações para decidir sobre a necessidade de enviar policiais para a área. Como a Terra Indígena Yanomami fica distante da capital, Boa Vista, e o acesso à região por barcos é impraticável nesta época do ano, a Superintendência da PF, caso necessário, terá que pedir apoio do Exército ou da Força Aérea Brasileira (FAB) ou aguardar o envio de aeronaves da Coordenação de Aviação Operacional (Caop) da PF, de Brasília.

O MPF também está acompanhando a situação e tem participado das reuniões para tentar encontrar uma resposta às reivindicações indígenas. A questão jurídica, no entanto, está sob a responsabilidade da Advocacia-Geral da União (AGU).

Os cerca de 9 milhões de hectares da Terra Indígena Yanomami se espalham por partes dos estados do Amazonas e Roraima. Cerca de 22 mil índios vivem na área, distribuídos, segundo Dário Kopenawa, por aproximadamente 240 comunidades.

*Colaborou Gabriele Bezerra – Repórter do radiojornalismo