Idosos ocupam sobrado em área nobre de São Paulo
Um grupo formado principalmente por idosos ocupa, deste o final de abril, um sobrado no Jardim América, bairro nobre da zona oeste paulistana. O objetivo da Frente de Luta por Moradia é transformar o imóvel em casa de repouso. Segundo o movimento, além dos 27 moradores idosos, voluntários ajudam a manter a casa, de 210 metros quadrados.
Reparos mais pesados, como consertar os encanamentos, são feitos pelos militantes mais jovens, enquanto, na limpeza e nas tarefas mais leves, os próprios idosos se revezam para cuidar da moradia. “Para a limpeza, são todos, cada um faz uma tarefa”, enfatiza Luzia Brito, de 75 anos, encarregada de organizar o trabalho.
A maior parte dos ocupantes é aposentada e recebe benefício de apenas um salário mínimo. Alguns têm emprego fixo ou fazem bicos para complementar a renda. Em comum, todos dizem ter dificuldades para pagar o aluguel. “Eu tinha sido despejada e estava morando de favor”, disse Cleide Silva, de 60 anos, que já trabalhou em diversas áreas ao longo da vida. “Trabalhei como doméstica, faxineira e em telemarketing, que foi o último."
Divorciada há mais de 20 anos, Cleide dsse que os dois filhos não têm condições de cuidar dela. Com a aposentadoria, não era capaz nem de manter uma quitinete na região central da cidade. Por isso, está satisfeita em participar da ocupação. “Para nós, tem sido uma bênção. Porque assim, não ficamos na rua, nem passamos a humilhação de viver de favor.”
Morando no sobrado, o casal Valdetina de Queirós (64 anos) e Darci Pereira (63 anos) conseguiu reduzir o tempo de deslocamento até o trabalho. Ambos têm emprego na Santa Cecília, região central, mas moravam na Cidade Tiradentes, extremo leste da capital. “É muito lotada a condução”, disse Valdetina sobre as duas horas que passava entre metrô e ônibus. Darci gosta da localização da casa: “aqui é sossegado, não tem bagunça. O bairro é bom.”
O imóvel pertence à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que já entrou com ação de reintegração de posse contra os ocupantes. A Unifesp recebeu o sobrado por doação após a morte de Maria Apparecida Madeira Kerbeg. A antiga proprietária condicionou a doação ao uso da casa pela universidade. Em caso de venda do imóvel, os recursos devem revertidos para pesquisa em saúde.
Em nota, a Unifesp explica que mantém contato com a Frente de Luta por Moradia e que não se opõe à proposta do movimento de adquirir o imóvel por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida. “Essa compra, caso seja concretizada, deverá ocorrer conforme o procedimento administrativo e de acordo com a legislação vigente,” acrescenta a nota.