Cidade de Deus faz caminhada pacífica contra a violência nas favelas do Rio

Uma grande caminhada pacífica contra a violência e a banalização da vida nas favelas do Rio de Janeiro ocupará as ruas da Cidade de Deus, comunidade localizada no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, na noite de hoje (30). De acordo com os organizadores, a passeata manifestará também repúdio à violência ocorrida no último dia 23, que resultou na morte do menino Marcos Vinicius dos Santos, de 11 anos, e do jovem conhecido como Breno, de 17 anos.

Segundo testemunhas, homens a bordo de um carro preto entraram na comunidade atirando e, além de matar os jovens, feriram duas outras pessoas, que foram atendidas no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, também na zona oeste. A caminhada desta noite dá seguimento ao ato Eu Só Quero É Ser Feliz, que ocorreu na praça da Cidade de Deus, no Natal.

O cineasta Rodrigo Felha, do grupo teatral infantojuvenil Os Arteiros, um dos responsáveis pela logística da manifestação, disse à Agência Brasil que os moradores, convidados e autoridades se concentrarão na Rua Josafá, onde ocorreram as mortes, e irão caminhando até a praça principal da comunidade. “O percurso vai ser todo por fora da favela”, disse Rodrigo Felha.

Na Rua Josafá, as atividades programadas incluem microfone aberto para quem quiser se expressar e enviar seu recado e intervenções artísticas, como declamações de poesias, esquetes, apresentações musicais. Não existe, porém, o intuito de festa, afirmou o cineasta. Trata-se de uma ação simbólica, que inclui também distribuição de cestas de alimentos doadas por comerciantes da região.

Na praça principal, outra produção montada dará continuidade ao evento, que conta com apoio de  autoridades e agentes culturais de outras comunidades, como as do Complexo do Alemão, Maré e a Favela da Rocinha. “Este vai ser o primeiro ato programado da Cidade de Deus”, disse Felha. Ele ressaltou que um ponto positivo é que os atores culturais da comunidade se comunicam e acabaram criando o grupo #botacaraCDD com objetivo de organizar outras manifestações.

“A partir deste ato, está nascendo alguma coisa que eu acho que pode ser considerado um núcleo comunitário de ações com relação a direitos humanos”. A articulação com grupos de outras comunidades garante visibilidade à iniciativa, disse.

A passeata desta noite é uma ação que vai ter voz, afirmou Felha. Uma das mensagens que serão transmitidas durante a caminhada é que a Cidade de Deus tem voz. “A gente precisa ser ouvido. Alguém precisa ouvir a gente, porque falar, a gente já está falando há muito tempo sobre o que está acontecendo”. Esse posicionamento, feito pela jovem moradora da comunidade, Gabriela Tomás, na noite de Natal, será divulgado durante a caminhada como uma frase padrão do movimento.

Segundo Felha, outros atos serão organizados mais adiante, em momentos específicos, “de outras formas e maneiras”, dependendo da reação que tiver de ser feita, completou o cineasta. A indicação é que todos os participantes da caminhada desta noite se vistam de branco, ressaltando a disposição dos moradores de conquistar a paz e se posicionar contra a violência e por mais direitos.