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Direitos Humanos

Menino de 2 anos morre após ser baleado na zona norte no Rio

Vinicius Lisboa - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 12/12/2015 - 14:59
Rio de Janeiro
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© Agência Brasil
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Gabriella Gomes mostra foto do filho Ruan, de 2 anos, que morreu baleado na Favela Metrô-Mangueira Foto Vinicius Lisboa/Agência Brasil

Um disparo de arma de fogo matou o menino Ruan Gomes, de 2 anos, na madrugada de hoje (12). Segundo a família, ele foi ferido enquanto dormia com a mãe e a irmã, na casa onde moram, na Favela Metrô Mangueira, zona norte do Rio de Janeiro. A mãe, Gabriella Gomes, de 20 anos, afirma que um tiroteio ocorria no Morro da Mangueira por volta das 4h30, quando Ruan foi baleado.

Gabriella conta que acordou com o barulho dos disparos e sentiu um líquido quente na cama, que pensou ser o seu próprio sangue. Quando levantou às pressas para tentar afastar os filhos da janela, ela percebeu que Ruan tinha sido atingido.

"Ele estava sangrando muito. Eu corri para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] da Saens Peña". Com a ajuda de um taxista, Gabriella Gomes, de 20 anos, conseguiu chegar à UPA, na Tijuca, de onde a criança foi transferida para o Hospital Souza Aguiar, no centro. "Ele já chegou lá com os batimentos muito fracos".

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, Ruan deu entrada no hospital em estado muito grave e morreu. O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios da capital, na qual Gabriella prestou depoimento hoje de manhã. O corpo de Ruan foi levado ao Instituto Médico-Legal para necropsia, de onde será liberado para o enterro, que a família afirma não ter condições de custear. "Vou ter que fazer uma vaquinha para enterrar o meu filho", diz Gabriella.

Segundo a Polícia Civil, um inquérito foi instaurado para investigar o caso, e agentes foram ao local buscar testemunhas e informações. A Polícia Militar, por meio da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, informa que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Mangueira foram alvo de bandidos enquanto faziam a segurança de pessoas que deixavam um evento na localidade conhecida como Buraco Quente. Os disparos teriam sido na Rua Visconde de Niterói, separada da comunidade Metrô-Mangueira pelos trilhos do trem e do metrô.

Protesto

A morte do menino levou moradores da comunidade a protestar na Avenida Radial Oeste, que chegou a ser fechada na altura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O local já foi palco de protestos em outros momentos porque a Favela Metrô-Mangueira está sendo removida pela prefeitura, que planeja construir um polo automotivo, aproveitando a grande quantidade de oficinas que já existem ali. A favela fica no entorno do Estádio do Maracanã e começou a ser removida em 2011. Moradores chegaram a ser cadastrados e a receber imóveis do Minha Casa, Minha Vida em outros locais, mas as casas voltaram a ser ocupadas por famílias sem moradia.

Em agosto deste ano, a 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu suspender as demolições de casas com crianças e adolescentes.  A decisão, no entanto, veio tarde para Gabriella. No início do ano, enquanto visitava o pai em um hospital, ela afirma que agentes públicos demoliram sua casa sem que pudesse reaver os pertences. "Perdi minha casa com tudo dentro".

Mãe de uma amiga de infância de Gabriella, Leyse Nascimento Lisboa, de 43 anos, consolava a jovem na porta do Instituto Médico-Legal e contou parte da história: "Quando ela chegou, tinham quebrado tudo. Ela foi morar em um quartinho sem nada, só com as crianças, que eram a única coisa que ela tinha. Cada uma foi arrumando uma coisa e uma menina que tinha ido embora deixou a casa para ela morar".

Desempregada desde que nasceu a filha mais velha, Letícia Gomes, de 4 anos, Gabriella recebe uma ajuda mensal de R$ 100 do pai da menina e não tem contato com o de Ruan. Para criar os filhos, ela conta com a ajuda do pai e faz trabalhos informais, ajudada por Leyse.

"Eu tenho uma barraca de cachorro quente e ela me ajuda sexta, sábado e domingo", conta Leyse, que lembra de quando Gabriella trabalhava grávida de Ruan e também depois que ele nasceu. "Ela colocava ele dentro do carrinho de bebê e tomava conta enquanto vendia cachorro quente".