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Direitos Humanos

Ato em SP pede transformação de antigo centro de tortura da ditadura em memorial

Participantes do protesto entregaram a representante da Prefeitura
Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 01/04/2017 - 19:23
São Paulo
São Paulo - Fachada do antigo Doi-Codi de São Paulo, onde foi assassinado o metalúrgico Manoel Fiel Filho, em 1976 (Rovena Rosa/Agência brasil)
© Rovena Rosa/Agência Brasil

Centenas de pessoas se reuniram na tarde deste sábado (1º) no 4º Ato Unificado Ditadura Nunca Mais, que reivindica a transformação das dependências do antigo Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em memorial. O local, na Zona Sul de São Paulo, foi usado para tortura a presos políticos durante a ditadura militar.

Participaram do ato ex-presos políticos, familiares de vítimas da ditadura, defensores dos direitos humanos e muitos jovens. O evento foi organizado pelo Núcleo de Preservação da Memória Política e pelo  Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça e marca os 53 anos do início da ditadura militar no Brasil. Na data, em 1964, o presidente João Goulart foi deposto por um golpe de Estado, comandado pelas Forças Armadas.

“Esse prédio tem uma história extremamente importante, não só pelas pessoas que aqui morreram, mas pelas pessoas que foram torturadas e sobreviveram a esse inferno”, afirmou o jornalista, ex-preso político e presidente do Conselho do Núcleo Memória, Ivan Seixas. Ele foi torturado no local quando era jovem, ao lado do pai Joaquim Alencar Seixas, que assassinado em 1971 na sede do DOI-Codi.

O aposentado Francisco Oliveira Prado, 77, conhecido como Chicão, presente no ato, tem tristes lembranças do local. Ele ficou no DOI-Codi por 15 dias em agosto de 1970, por pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Conta que, de tanta tortura que sofreu, precisou ficar três meses em cadeira de rodas após deixar a prisão. Ele acredita que o que aconteceu no prédio deve ser contado para as novas gerações.  “Tem que ter um centro de memória para que a juventude saiba o que aconteceu aqui, precisamos contar para os jovens para não acontecer de novo a ditadura”.

No ato, foi entregue ao coordenador de Promoção do Direito à Cidade e Educação em Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo, Fernando Guimarães Rodrigues, o processo de identificação dos restos mortais exumados de uma vala clandestina no Cemitério de Perus, zona norte paulistana, e um ofício apresentando um abaixo-assinado que reivindica a constituição de memorial no local, que atualmente funciona como sede da 36ª Delegacia de Polícia Civil de São Paulo.

O coordenador recebeu os documentos e disse que a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania está trabalhando no reconhecimento das ossadas e nas demais recomendações do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça. “Vamos fazer todos os esforços para transformar este local num centro de memórias”, afirmou o coordenador.

Durante o evento, o Núcleo 184, do Teatro Heleny Guariba, encenou um tribunal, representando o mulheres mortas e torturadas durante a ditadura. Ao final do ato, ao som da música Suite Do Pescador, de Dorival Caymmi, apresentada pelo Coral Luther King, diversas flores foram colocadas no prédio onde aconteceu a maioria das torturas.

DOI-Codi

O DOI-Codi foi um órgão repressor criado pelo regime militar brasileiro (1964-1985) para prender e torturar aqueles que fossem contrários ao regime. Em São Paulo, em 1975, durante a presidência do general Ernesto Geisel, o DOI-Codi capturou e prendeu o jornalista Vladmir Herzog, alegando que ele disseminava ideais comunistas. Depois de torturá-lo violentamente e assassiná-lo, apresentaram seu corpo à imprensa, argumentando que ele se suicidou ao se enforcar.

Entretanto, seus pés estavam praticamente caídos no chão e o cinto que simulava o enforcamento não estava em uma altura suficiente para que Herzog cometesse aquele ato. Herzog também estava machucado, resultado dos espancamentos dos agentes do DOI-Codi.

Além de Herzog, muitos estudantes e intelectuais foram presos. Alguns ainda permanecem desaparecidos. Com o fim da ditadura militar, em 1985, o centro de inteligência do DOI-Codi foi extinto.