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Direitos Humanos

Na véspera do 30º dia da morte de Marielle, Anistia cobra solução do crime

Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 13/04/2018 - 18:04
Rio de Janeiro
Vereadora Marielle Franco (PSOL) na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro
© Renan Olaz/ Câmara Municipal do Rio

A organização Anistia Internacional cobrou hoje (13) prioridade do Estado brasileiro na solução do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A execução deles completa um mês amanhã (14), quando devem ocorrer diversos protestos na cidade do Rio de Janeiro, a partir das 6h. Outras cidades dentro e fora do país devem ter manifestações.

Em comunicado emitido pela organização e em entrevista coletiva à imprensa internacional, em Lisboa, a entidade exigiu que as autoridades acelerem a investigação com recursos humanos e financeiros disponíveis, de maneira completa, imparcial e independente, sob risco de o país assistir novas execuções de ativistas.

“A gente quer saber: quem matou e quem mandou matar. Não aceitamos que se pegue só o braço armado dessa operação. Queremos saber quais interesses, quais as razões e por quê. Queremos que todos sejam processados na forma da lei, queremos que isso cesse”, disse a diretora da Anistia no Brasil, Jurema Werneck, em Lisboa. Ela afirmou que o país é o que mais mata defensores de direitos humanos e a impunidade aumenta os riscos. Em 2017, foram 58 mortos.

O crime contra a vereadora, além de afrontar a intervenção federal, que estava prestes a completar um mês no dia do assassinato, passa um recado claro, avalia Jurema Werneck: “Quiseram nos dizer que a vida de quem luta por direitos não vale nada. [Os assassinos] estão dizendo para o Brasil e ao mundo que eles dão a última palavra”, com intenção de gerar medo e insegurança, completou. Por isso, cada dia sem respostas, segundo Jurema, aumenta os riscos e ameaças aos ativistas, explicou.

Uma das vereadoras mais bem votadas na cidade do Rio, em 2016, Marielle Franco tinha reconhecida atuação em defesa dos direitos das mulheres negras, em particular, da população LGBTI, e por denunciar abusos da polícia, assim como execuções praticadas por grupos paramilitares. Oriunda da favela da Maré, na zona norte do Rio, conhecia a realidade de guerra às drogas imposta pela atual política de segurança, que vitima mais jovens negros, com a morte ou o encarceramento. Socióloga e mestre em administração pública, ela tinha 38 anos e deixa a esposa e uma filha.

No dia 14 de março, ao sair de uma atividade em que discutia a situação das jovens negras no país, a vereadora foi seguida e executada. Pelo menos 13 tiros foram disparados na direção em que estava, matando Marielle e também seu motorista, Anderson Gomes, no bairro do Estácio, na região central.

Segundo a Anistia, essas as características demonstram que a execução da vereadora do PSOL foi “cuidadosamente planejada, realizada por pessoas com treinamento”.

Como última homenagem à parlamentar, ontem (12), a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou a Medalha Tiradentes – a maior honraria da casa – para Marielle.

A Polícia Civil e a Polícia Federal estão envolvidas na investigação. Já interrogaram parlamentares próximos à vereadora e identificaram fragmentos de digitais em projéteis no local do crime. O secretário de Segurança, Richard Nunes, evitar dar detalhes sobre a investigação para não atrapalhar o caso.