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Direitos Humanos

Casa Nem busca solução para manter acolhimento a LGBTIs vulneráveis

Prédio ocupado pelo projeto está sob ordem de reintegração de posse
Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil*
Publicado em 27/07/2020 - 20:16
Rio de Janeiro
 A ativista LGBT Indianara Siqueira, coordenadora da Casa Nem, um dos grupos que atualmente ocupa do  edíficio abandonado Almeida Rêgo, na Rua Dias da Rocha 27, em Copacabana, onde foi encontrado acervo com animais empalhados, ossadas, bustos e
© Fernando Frazão/Agência Brasil

Sob risco de ser retirada do prédio que ocupa em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, a Casa Nem busca uma solução para manter suas atividades. Primeiro lar de acolhimento para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e intersexuais (LGBTI) do estado, o projeto abriga atualmente cerca de 80 pessoas, segundo a coordenadora, Indianare Siqueira.

Ativistas e defensores dos direitos humanos chegaram a acreditar que a reintegração de posse decretada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) seria cumprida hoje (27), e um protesto foi organizado na frente da ocupação. Segundo o TJRJ, no entanto, a data do cumprimento da ordem judicial ainda será comunicada pela central de mandados à Polícia Militar.

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A Casa Nem nasceu em 2016, do pré-vestibular comunitário Prepara Nem, e já sofreu despejos em endereços na Lapa e em Vila Isabel. Desde o ano passado, o projeto está em Copacabana, e a Iliria Administradora de Imóveis move uma ação para obter a reintegração de posse do prédio ocupado.

Em 21 de outubro do ano passado, a 15ª Vara Cível do TJRJ atendeu ao pedido pela primeira vez. Recursos contra a decisão foram recusados em primeira e segunda instâncias, e, após embargos de declaração, a juíza Daniela Freitas expediu novo mandado de reintegração de posse em 18 de junho. De acordo com o TJRJ, terminou hoje o período de 30 dias desde que a decisão foi comunicada aos moradores, e a juíza vai determinar que a central de mandados avise à Polícia Militar quando fará a reintegração.

O risco de despejo dos moradores da Casa Nem em meio à pandemia de covid-19 mobilizou a Defensoria Pública do Estado, a Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, a Superintendência de Políticas LGBT do governo estadual e a Arquidiocese do Rio de Janeiro para realizarem reuniões na semana passada. Os órgãos buscam mediar uma solução para que as pessoas atendidas pelo projeto não fiquem desabrigadas.

A Defensoria Pública ingressou com uma petição na última sexta-feira (24) para tentar evitar a reintegração. A coordenadora do Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos da Defensoria Pública, Letícia Furtado, argumentou que o despejo colocaria em risco até mesmo os agentes que cumprissem a ordem de reintegração, devido à necessidade de distanciamento social.

"Para onde vão essas famílias LGBTIs já vulnerabilizadas?", questionou a defensora pública. Para Letícia, uma reintegração como essa depende de uma série de questões, como o local para onde serão levadas as pessoas e seus pertences.

O coordenador especial de Diversidade Sexual da prefeitura, Nélio Georgini, esteve em frente ao prédio na manhã desta segunda-feira para oferecer suporte aos moradores. Representantes da coordenadoria, da arquidiocese e da defensoria Pública reuniram-se na semana passada para discutir a situação dos moradores. Segundo Nélio, uma das soluções em estudo é encontrar um prédio público que possa receber o lar de acolhimento. A prefeitura do Rio criou um abrigo provisório para a população LGBTI no momento da pandemia, mas apenas quatro das 40 vagas estão disponíveis.

Além do abrigo para cerca de 80 pessoas, a Casa Nem oferece atendimentos externos e oficinas para mais de 100 LGBTIs. Recentemente, 80 pessoas atendidas pelo projeto participaram de uma oficina em que produziram 17 mil máscaras de proteção contra o novo coronavírus, que foram distribuídas gratuitamente.

A coordenadora do projeto e presidente do grupo Transrevolução, Indianare Siqueira, negou que o prédio ocupado pela Casa Nem esteja em estado precário. Segundo Indianare, o grupo encontrou o local cheio de lixo e entulho, em meio ao qual havia obras de arte que foram entregues ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Desde então, ela afirma que foi feito um trabalho de limpeza e de recuperação do prédio.

"Tiramos oito caçambas de lixo e entulho. O prédio era um risco sanitário para a vizinhança local e estava caindo reboco da fachada nas pessoas da calçada. Havia janelas quebradas caindo nas pessoas. Agora o prédio está em condições habitáveis", afirmou Indianare. O projeto recebe pessoas encaminhadas por órgãos públicos municipais e estaduais. "A gente faz um trabalho em conjunto com o governo, não faz trabalho clandestino."

Ela disse esperar que a Justiça se sensibilize com os apelos dos órgãos públicos e medeie uma conciliação para que se encontre um local definitivo para a Casa Nem. "Ou encontrar um local para que a Casa Nem seja assentada definitivamente, com todos os seus projetos sociais, ou que o prédio seja desapropriado em uma negociação com a administradora. É uma negociação que tem que ser feita, mas a gente precisa de tempo para isso. Não pode ser feito nesse momento de pandemia", afirmou Indianare.

*Colaborou Raquel Júnia, repórter do Radiojornalismo da EBC