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Direitos Humanos

Acnur: deslocamento forçado atinge 89,3 milhões de pessoas em 2021

Relatório indica aumento de 8% em relação a 2020
Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 16/06/2022 - 20:20
Rio de Janeiro
Ucrânia Refugiados
© Reuters/Stoyan Nenov/Direitos Reservados

O deslocamento global de pessoas forçadas a deixar suas casas atingiu novo recorde na última década, o que mostra tendência de crescimento a cada ano. De acordo com o relatório Tendências Globais – Deslocamento Forçado em 2021, divulgado pela Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (Acnur), o número de pessoas que tiveram que abandonar as suas casas está no nível mais alto desde que começou a ser registrado. “Uma tendência que só pode ser revertida por um novo e combinado esforço em favor da paz”, indicou a ACNUR.

O relatório, lançado hoje (16) em uma parceria da Acnur com o Sesc Rio, apontou que o número de pessoas deslocadas por guerras, violência, perseguições e abusos de direitos humanos atingiu 89,3 milhões de pessoas no final de 2021, o que representa crescimento de 8% em relação ao ano anterior e mais que o dobro verificado há 10 anos.

Segundo a Acnur, a guerra da Rússia contra a Ucrânia “causou a mais veloz e uma das maiores crises de deslocamento forçado de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial”. O número foi reforçado ainda por outras emergências humanitárias, da África ao Afeganistão, que levaram à marca dramática de 100 milhões de pessoas em maio de 2022.

“Ou a comunidade internacional se une para enfrentar esta tragédia humana, resolver conflitos e encontrar soluções duráveis, ou esta tendência terrível continuará”, alertou o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi.

De acordo com dados do Banco Mundial, houve a intensificação de conflitos em 23 países, com população estimada de 850 milhões de pessoas, que enfrentaram confrontos de intensidade média ou alta no último ano.

A privação das pessoas também foi impactada pela escassez de comida, pela inflação e pela crise climática e exige “uma maior resposta humanitária no momento em que as projeções de financiamento para muitas dessas situações se apresentam sombrias”.

Refugiadas

O número de pessoas refugiadas cresceu para 27,1 milhões em 2021 e as chegadas aumentaram significativamente em Uganda, Chade e Sudão, entre outros países. O relatório apontou que a maioria destas pessoas, mais uma vez, foi acolhida por países vizinhos com poucos recursos. “O número de solicitantes do reconhecimento da condição de refugiado chegou a 4,6 milhões (um crescimento de 11%)”, acrescentou.

O ano de 2021 registrou ainda o 15º crescimento anual consecutivo no número de pessoas deslocadas dentro de seus próprios países, que alcançou 53,2 milhões de pessoas. Segundo a Acnur, a alta foi provocada por violência crescente ou conflitos em diferentes lugares, como Mianmar.

“O conflito em Tigray e em outras regiões da Etiópia levou a um deslocamento de milhões de pessoas dentro do país. Insurgentes no Sahel causaram novas ondas de deslocamento forçado, particularmente em Burquina Faso e no Chade”, destacou.

O relatório avaliou ainda que a velocidade e o volume do deslocamento têm sido maiores do que a disponibilidade de soluções para as pessoas deslocadas, tais como retorno a suas casas, reassentamento e integração local. Apesar disso, o estudo Tendências Globais – Deslocamento Forçado em 2021 mostrou alguns sinais de esperança.

De acordo com o Alto Comissário Filippo Grandi, ao mesmo tempo em que são notadas novas e terríveis situações de refugiados simultâneas às já existentes, que permanecem ativas e sem solução, também existem exemplos de países e comunidades trabalhando juntos para encontrar soluções às pessoas deslocadas.

“Isto tem acontecido em lugares específicos – como a cooperação regional para a repatriação de costa-marfinenses – e essas importantes decisões precisam se replicadas e aumentadas em todos os lugares”, afirmou.

Outro sinal de esperança está relacionado ao número de pessoas apátridas. Embora tenha crescido discretamente em 2021, cerca de 81,2 mil delas conquistaram nacionalidade ou a confirmaram, “configurando a maior redução de casos de apátridas, desde que o Acnur iniciou a campanha #IBelong [#EuPertenço] em 2014”.

O relatório Tendências Globais é divulgado simultaneamente com o Relatório Global (ou Global Report), que informa sobre os programas de atividades do Acnur para responder às necessidades de todas as pessoas forçadas a se deslocar, e também da população mundial reconhecida como apátrida.