Projeto da Embrapa alia proteção ambiental e mais renda em áreas tradicionais
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou nesta segunda-feira (28), em Brasília, um projeto para aumentar a renda de comunidades tradicionais ao mesmo tempo em que promove a conservação da Amazônia, da Caatinga e do Cerrado. O ponto de partida da iniciativa é a capacitação de pequenos produtores e agricultores familiares para o uso sustentável de recursos naturais.
A iniciativa prevê a promoção de técnicas de manejo para extração de produtos florestais como frutas, sementes, castanhas, amêndoas, borracha e fibras, entre muitos outros. Os moradores das regiões selecionadas serão formados tanto para o extrativismo como para sistemas que integram agricultura e floresta, de forma que a proteção dos biomas se torne uma alternativa mais interessante que o uso não sustentável da terra, como a prática da monocultura e o desmatamento.
Segundo o pesquisador líder do projeto, Aldicir Scariot, a Embrapa, executora técnica do projeto, tem como meta capacitar 540 técnicos e 3 mil famílias em três anos. Scariot disse que a expectativa é que, ao promover soluções locais para as seis regiões selecionadas, o Brasil desenvolva técnicas que possam ser propagadas para outras regiões do país por meio de políticas públicas. “Queremos desenvolver novas tecnologias, abrir canais de comercialização desses produtos, capacitar pessoas para produzirem para compradores identificados. E o governo entra com outros incentivos, apoiando a compra de equipamentos para que cooperativas beneficiem seus produtos, por exemplo.”
De acordo com a Embrapa, as áreas escolhidas para o projeto têm importância comprovada para a biodiversidade global e estão sob ameaça pelo aumento da pressão do uso da terra, com práticas agrícolas e pecuárias que degradam o ambiente.
Os Territórios da Cidadania escolhidos para atuação do projeto foram o TC Alto Rio Pardo (MG) e TC Médio Mearim (MA), no Cerrado, o TC Sertão São Francisco (BA) e TC Sobral (CE), na Caatinga, e o TC Alto Acre e Capixaba (AC) e TC Marajó (PA), no bioma Amazônia. Nesses locais, estão concentrados grupos de quilombolas, indígenas e outras populações tradicionais que têm a agricultura familiar tradicional e o agroextrativismo como principais atividades de subsistência.
O projeto será executado em cinco anos e recebeu US$ 6 milhões de doação do Fundo Global para o Meio Ambiente. Além de ter parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a iniciativa é apoiada pelos ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Social, do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura; pela Companhia Nacional de Abastecimento, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e por organizações da sociedade civil.
A secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Cristina Barros, afirma que a iniciativa pode ajudar a pacificar o entendimento de que conservação ambiental e desenvolvimento econômico podem andar juntos. “Ainda tem muitos profissionais dos dois lados, ambiental e desenvolvimentista, que acham que conservação é só aquilo que está isolado das pessoas, o que não é verdade. Há práticas, como as propostas pelo projeto, em que se tem o uso da biodiversidade inclusive como uma forma de conservação, que valoriza aquela floresta, cerrado ou caatinga, e garante que se perpetue.”
O representante residente do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, disse que o projeto vai ao encontro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, compromisso firmado pelos países-membros da ONU na última sexta-feira (25), em Nova York, e tem potencial para ser levado a outros países.
“O projeto apresentado é desenvolvimento sustentável puro. Inclui a sustentabilidade no sentido amplo, ambiental, social e econômica – é o tipo de iniciativa que vai permitir que se atinjam os objetivos do desenvolvimento sustentável.”, disse Chediek durante o lançamento oficial do projeto.
Aldicir Scariot ressalta que o projeto também vai atuar na identificação de gargalos financeiros e de mercado que comprometem o aumento da produção e da renda das comunidades. Segundo o pesquisador, faltam dados confiáveis no Brasil sobre o uso da biodiversidade. “No caso do pequi, por exemplo, do Cerrado. O IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] contabiliza 5,7 mil toneladas do produto comercializadas por ano no país inteiro. A Embrapa tem registro de um comerciante que, sozinho, vende 10 mil toneladas por ano. Há uma cadeia enorme, mas ainda muito informal e desconhecida.”