BC tem instrumentos para assegurar poder de compra da moeda, diz diretor
O Banco Central (BC) reconhece que a inflação está elevada e os malefícios que a alta dos preços traz para a economia, mas tem determinação, autonomia e instrumentos para assegurar o poder de compra da moeda. A afirmação foi feita pelo diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, ao apresentar hoje (23) o Relatório de Inflação.
De acordo com Lopes, entre os malefícios da inflação alta estão o encurtamento do horizonte de planejamento das famílias e empresas e o aumento da concentração de renda.
“O Banco Central tem determinação, tem autonomia e tem instrumentos para cumprir essa estratégia. Esses instrumentos serão utilizados quando e se o Copom [Comitê de Política Monetária, responsável por definir a taxa básica de juros, a Selic] julgar necessário”, disse Lopes.
O principal instrumento usado pelo BC para controlar a alta dos preços é a taxa básica de juros. O Copom elevou a Selic sete vezes consecutivas. Nas reuniões do comitê em setembro, outubro e novembro, o comitê optou por manter a taxa em 14,25% ao ano.
O índice é usado nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-lo para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
O Banco Central espera que a inflação, medida pelo IPCA, chegará este ano a dois dígitos e passará longe do teto da meta, de 6,5%. A projeção é que a inflação feche o ano em 10,8%. Para 2016, a estimativa para o IPCA subiu de 5,3% para 6,2%. Em 2017, a inflação deve ficar em 4,8%.
Segundo o BC, a inflação está alta devido ao realinhamento entre preços administrados e livres e entre domésticos e internacionais. Também há influência das “incertezas quanto à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais e à sua composição”.
Para Lopes, o aumento dos preços administrados, neste ano, é melhor do que se fosse feito em um processo mais lento. “Traz um custo pronto no momento e os benefícios vem longo em seguida. Um ajuste mais lendo poderia ser menos dolorido, mas o rescaldo seria pior”, disse.
Questionado se o aumento do desemprego e a queda da economia impediriam o BC de elevar a taxa básica, Lopes afirmou que o mandado do BC é um só. “Só temos um mandato que é trazer a inflação para a meta. Vamos agir, se necessário”, enfatizou.
Lopes disse ainda que não descarta nenhum instrumento de política monetária, como mudanças em depósitos compulsórios. “Há vários instrumentos de política monetária, entre eles o compulsório. Nada se descarta”. Ao se elevar depósitos compulsórios, recursos que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC, reduz-se o dinheiro disponível na economia e, por consequência, a demanda por produtos e serviços, afetando a inflação.