logo Agência Brasil
Economia

Selo do Procel motiva economia de 15 bilhões de KWh em um ano

Além dos tradicionais selos para eletrodomésticos, o programa também
Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 08/09/2017 - 22:28
Rio de Janeiro
Energia elétrica
© Marcello Casal jr/Agência Brasil
Energia elétrica

O Procel também incentiva a economia de energia elétrica na iluminação públicaMarcello Casal Jr/Agência Brasil

O consumidor brasileiro evoluiu na busca de produtos com mais eficiência energética e o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) para esses produtos tem sido decisivo na hora da compra de eletrodomésticos e outros equipamentos. Em 2016, foram vendidos 42 milhões de aparelhos com o selo, como mostra o Relatório de Resultados 2017, referente a dados de 2016.

Em 2016, as ações do Procel motivaram a economia de aproximadamente 15,15 bilhões de KWh. O volume cresceu 29,74%, em relação ao ano anterior e equivale à energia fornecida durante um ano por uma usina de 3.634 MW.

“Há uma demanda do consumidor, que cada vez mais pede e percebe isso”, disse à Agência Brasil o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa.

Na visão do professor de Planejamento energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), André Lucena, existe um movimento de incentivo à compra de produtos mais eficientes, mas nas classes de renda mais baixa, o consumidor costuma optar pelo mais barato. “Se tem preços parecidos até vai comprar o mais eficiente se tiver esta informação, mas não vai ser o único critério na hora da compra", disse.

Pedrosa sugeriu ainda que o consumidor deve ser incentivado a regular os aparelhos para economizar energia. “O consumidor pode ser informado, que em determinado momento, pode mudar o termostato dele de 24 graus para 26 graus e com isso economizar um dinheiro. Muitas vezes até de forma eletrônica e automática isso pode ser feito. Ou uma máquina de lavar que lava a roupa por exemplo de madrugada. Esses ganhos de eficiência melhoram muito o setor e reduzem o custo para todos. Eles [os consumidores] precisam ser estimulados”, indicou.

Incentivos à modernização

Para o secretário-executivo, para avançar ainda mais o setor de energia precisa se atualizar e se modernizar. Na visão de Pedrosa, ele ficou imune à evolução tecnológica durante muitos anos. “Hoje ele [o setor] está sendo questionado pela geração distribuída, pelos medidores inteligentes, pelos consumidores inteligentes e pela demanda da sociedade, das indústrias, do comércio e do consumidor residencial de participar do mercado. Isso no mundo inteiro é um fator de eficiência para o setor”, disse.

A indústria deveria ser incentivada na produção de equipamentos eficientes, na opinião do professor da Coppe. Lucena contou que no Japão tem um programa chamado Top Runner, que impõe períodos para os produtores ampliarem a eficiência de seus equipamentos. “É como se fosse um sarrafo cada vez mais alto. Se for comparar o sarrafo brasileiro com o sarrafo japonês ou europeu, o brasileiro não é alto comparativamente aos outros. Um programa que colocasse metas de eficiência nos equipamentos no longo prazo dá tempo da indústria se ajustar”, concluiu.

A superintendente de Gestão de Participações em Sociedades de Propósito Específico e programas de governo da Eletrobras, Renata Falcão, informou que desde 85, quando foi criado, o Procel "conseguiu economizar em torno de 107 bilhões de KW/h, o que é muita coisa. Só em 2016, a gente teve uma economia de 3,3% do consumo total do Brasil. Com isso, se deixou de investir R$ 3 bilhões para fazer a oferta de geração de energia”.

Atualmente, 39 categorias de equipamentos são certificadas pelo selo Procel. A lista de produtos inclui não apenas eletrodomésticos, mas também painéis fotovoltaicos de geração de energia, bombas centrífugas e lâmpadas a vapor de sódio e led, entre outros.

Outras iniciativas

O Procel também certifica edificações e municípios com uso eficiente de energia. Com Selo Procel Edificações, foi possível economizar 4,63 GWh apenas em 2016. Esse tipo de selo incentiva a redução do custo operacional das construções e também do uso e manutenção dos imóveis. “As construtoras que trabalham para os níveis de renda A e B estão muito preocupadas com isso, porque vendem para uma classe que quer sustentabilidade e eficiência. Ao mesmo tempo [o projeto de eficiência energética nos prédios] resulta em propaganda positiva para a construtora”, afirmou Renata.

Em relação às prefeituras,  o Procel Gestão Energética Municipal contribui para reduzir custos e evitar desperdícios de energia elétrica e o Procel Reluz desenvolve sistemas eficientes de iluminação pública e de semáforos. Com a troca das lâmpadas por modelos mais econômicos (a vapor de sódio ou por luminárias led), o Procel Reluz gerou economia de 62,64 KWh em 2016 – a redução de demanda no horário de ponta alcançou 14,30 mil KWh. Desde 2000, cerca de 2,78 milhões de pontos de iluminação pública foram substituídos no país.

“O Reluz teve um apelo maior, porque além de economizar energia, tem a questão de segurança e do turismo e diminui as contas municipais de prefeituras endividadas. Junto com o selo é um carro-chefe do Procel”, disse Renata.

Menos poluição

A economia de geração de energia com o uso mais eficiente evitou que 1.238 milhão de toneladas de gás carbônico (CO2) fossem liberadas na atmosfera, o que corresponde às emissões de 425 mil veículos durante um ano.

Para a pesquisadora da Fundação Getulio Vargas Energia (FGV Energia), Mariana Weiss, o investimento feito em eficiência energética é o mais barato e seguro que pode ser feito no setor, porque vai impedir a expansão maior do sistema elétrico e de emissões de gases. A economia de energia alcançada pode evitar até o acionamento de usinas térmicas, que são mais poluidoras.

Mariana incentiva que o consumidor use equipamentos eficientes e fora do horário de pico. “Qualquer redução de consumo de energia que tiver no horário de ponta, tem uma queda no custo muito maior”.

Ela também fez referência à iniciativa de alguns municípios de incentivar construções mais eficientes por meio do IPTU Verde, como já acontece por exemplo em Tietê (SP), Campos do Jordão (SP), Colatina (ES) e Goiânia. “O consumidor que decide fazer essa construção verde, além de ter a redução no consumo de energia e de água, ainda tem redução do IPTU e vai conseguir ter o retorno do investimento muito mais rápido”, afirmou a pesquisadora.

*Matéria atualizada às 16h25 do dia 12 de setembro para correção de informações. Diferentemente do informado inicialmente pela entrevistada, as cidades do Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte não têm IPTU Verde, e sim as de Tietê (SP), Campos do Jordão (SP), Colatina (ES) e Goiânia.