Agência Brasil explica: como Selic baixa pode influenciar seu bolso
A taxa básica de juros, a Selic, chegou ao menor patamar da história no último dia 17, ao ser fixada em 2,25% ao ano. Pela oitava vez consecutiva, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiram reduzir a taxa, como já era esperado pelo mercado financeiro.
Em comunicado, o BC informou que a redução dos juros nas últimas reuniões é compatível com os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus e que, para as próximas reuniões, poderá haver um "ajuste residual" no estímulo monetário.
Mas por que o Banco Central tem reduzido os juros básicos? E de que forma isso afeta o dia a dia dos cidadãos?
A taxa de juros Selic é a referência para os demais juros da economia e é definida pelo Copom em oito reuniões ordinárias ao longo do ano. É a taxa média cobrada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). Uma vez definida a taxa Selic, o BC atua diariamente comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião do Copom.
Por meio da definição da Selic, o BC busca controlar a inflação do país, mantendo-a dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional. Para este ano, a meta é de 4%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,5% e o superior, 5,5%. Devido à pandemia de coronavírus, que desaqueceu a economia, o mercado financeiro projeta inflação abaixo do piso da meta.
Com a inflação baixa e o país registrando até deflação, como ocorreu em maio, o BC tem tido espaço para cortar a Selic. Em situações normais, ao reduzir a Selic, o Banco Central estimula a economia porque os juros mais baixos ajudam a tornar o crédito mais barato e incentivam o consumo e os investimentos.
Entretanto, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de conceder crédito e definir as taxas, como o risco de inadimplência, gastos administrativos e lucro.
Assim, mesmo com a Selic baixa, no cenário de pandemia, os consumidores estão receosos em gastar mais devido ao medo de desemprego ou de perder renda, e os bancos não reduzem os juros por causa do maior risco de inadimplência.
No atual cenário, o diretor executivo de estudos e pesquisas da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, diz que a única certeza é que os rendimentos dos investimentos serão menores. “É uma certeza – se cai a Selic, caem os rendimentos dos investimentos”, afirmou.
Poupança
Os investimentos em poupança têm rendimentos menores com a Selic mais baixa. Isso acontece porque os rendimentos da poupança são 70% da Selic, mais a Taxa Referencial (TR). Mesmo assim, Oliveira diz que a poupança ganha em rendimento de investimentos em fundo de renda fixa, porque não tem cobrança de Imposto de Renda e taxa de administração.
Em maio, os brasileiros depositaram R$ 37,2 bilhões a mais do que retiraram da aplicação. Foi a maior captação líquida para todos os meses desde o início da série histórica, em 1995.
Segundo Oliveira, isso aconteceu porque as pessoas estão guardando dinheiro em vez de consumir. Outro fator é que os créditos do auxílio emergencial são feitos na poupança social da Caixa.
Investimentos em bolsa
O diretor da Anefac aconselha investimentos na bolsa somente para as pessoas que aceitam correr risco e pensam em um investimento de longo prazo. “A economia quase parada vai afetar o resultado das ações. É diferente de outros investimentos em que você não corre o risco de perder o principal (valor aplicado). Não é o momento para entrar na bolsa, a não ser que queira assumir risco e pense a longo prazo”, disse.
Empréstimos e renegociação de dívidas
Para quem tem dívidas com os bancos, este pode ser um bom momento para renegociar. Oliveira diz que os bancos querem reduzir o nível de inadimplência e, por isso, os consumidores podem conseguir taxas melhores ao renegociar.
Quem precisa tomar um empréstimo, pode não encontrar taxas de juros atrativas. “Na prática, com as empresas quebrando e as pessoas perdendo emprego, o banco tem dúvidas se o cliente vai conseguir pagar o empréstimo. A Selic cai, mas os bancos não repassam essa redução porque o risco está maior”, explicou.
Mercado imobiliário
Com o cenário de incertezas, Oliveira destaca que os bancos têm sido muito seletivos na hora de conceder crédito imobiliário. E os consumidores devem ser mais cautelosos no momento. “Se não sabe se está estabilizado no emprego ou não tem uma reserva, é preciso pensar se este é o momento de fazer uma dívida tão alta de longo prazo”, disse.
Para quem compra para investir, este pode não ser um bom momento porque as empresas estão repensando se é necessário manter estruturas alugadas ou se vale estimular o trabalho em casa. Além disso, com pessoas perdendo emprego pode ser mais difícil alugar o imóvel. “Há o risco de comprar para locação e o imóvel ficar parado, com custos com IPTU e condomínio”, disse.
Consumo
Em cenário de menor consumo, as empresas podem fazer promoções para conseguir vender mais. Entretanto, Oliveira recomenda o aumento de gastos somente se o preço estiver realmente muito bom. “O momento agora é de preservar patrimônio. O consumidor pode precisar amanhã do dinheiro que gasta hoje”, destacou.