Segunda etapa do vestibular da USP termina com abstenção de 9%
No último dia da segunda fase da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), 23.628 candidatos compareceram para fazer a prova, o que significa abstenção de 9%. Ontem (11) faltaram 8,4% dos chamados para a segunda fase. Ao todo, foram três dias consecutivos de prova. No ano passado, o índice de abstenção no terceiro dia ficou em 8,8%.
A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) foi um dos locais de aplicação da prova. Os portões foram fechados às 13h e parentes e amigos ficaam ali, esperavando a saída de candidatos.
Ao todo, 25.967 vestibulandos foram convocados para a segunda etapa do exame. Os estudantes foram distribuídos em 42 endereços na capital e em 19 no interior do estado. Mais de 140 mil pessoas participaram da primeira fase. A Fuvest é a maior seleção para ingresso em curso superior do país, ficando atrás do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A candidata Rita de Cássia Rodrigues de Albuquerque, de 19 anos, que prestou vestibular para o curso de história, achou muito difícil a prova de hoje, sobre História Geral. Rita de Cássia disse que a precariedade na educação pública prejudica o desempenho dos estudantes. “Eu vim de escola pública, não fiz cursinho, não tive acesso a uma educação que me permitisse fazer [bem] a prova.”
“É muito triste, você se sente humilhado até. Eu saí chorando. Não tem condições de um aluno de escola pública entrar na USP sem um cursinho, nem que seja comunitário”, acrescentou Rita, que fez a prova da Fuvest pela terceira vez. Ela afirmou que não tem condições de frequentar um cursinho porque falta dinheiro até para o transporte.
Sobre a questão da inclusão social na universidade, a instituição informou que não tem sistema de reserva de vagas por cotas e que, desde 2006, oferece bônus na nota do vestibular da Fuvest a alunos vindos de escolas públicas, dentro do Inclusp - Programa de Inclusão Social da USP. De acordo com a universidade, todos os cursos são abrangidos pelo programa.
No ano passado, a USP aderiu ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) como forma de ingresso a seus cursos de graduação. Do total de 11.057 vagas oferecidas no vestibular para ingresso neste ano, 1.489 vagas serão destinadas ao Sisu e 9.568 continuarão a ser selecionadas pela Fuvest.
De acordo com a USP, de suas 42 unidades de ensino e pesquisa, sete não disponibilizaram vagas para o Sisu. Além dessas, a Escola de Comunicações e Artes [ECA], a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo [FAU] e o Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos [IAU] não aderiram ao sistema, pois a seleção dos novos alunos dessas unidades conta também com provas de habilidades específicas, informou a universidade.
Segundo o Núcleo de Consciência Negra (NCN) da USP, essas propostas não atendem à real necessidade de inclusão e permanência da população negra, pobre e periférica na universidade. O Movimento Negro, organizado por mais de 60 entidades, incluindo o NCN, redigiu o Projeto de Lei da Frente Pró-Cotas.
O projeto de lei de iniciativa popular propõe, para as universidades públicas e demais instituições de ensino superior mantidas pelo estado de São Paulo, a reserva de 25% de vagas para estudantes autodeclarados negros, pardos e indígenas; 25% para candidatos oriundos da rede pública de ensino, dos quais 12,5% têm de vir de núcleos com renda familiar per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo; e 5% para candidatos com deficiência, nos termos da legislação em vigor. O grupo precisa coletar 200 mil assinaturas no estado para conseguir a aprovação do projeto, informou Maria José Menezes, colaboradora do NCN.
Para o Núcleo de Consciência Negra da USP, a Fuvest “é um mecanismo que reforça a falsa meritocracia ao transferir para a população pobre, preta e moradora nas periferias a responsabilidade pelo seu não ingresso nesta universidade”.
A USP disse que, no ano passado, o número de ingressantes vindos de escolas públicas cresceu 8% em relação ao ano anterior, passando de 32,3% para 35,1%. Segundo a assessoria de imprensa da universidade, esse número representa o maior índice registrado na universidade desde a criação do Inclusp, em 2006.