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Educação

Parceria busca intercâmbios esportivos entre Brasil e países africanos

Vinícius Lisboa - Enviado especial da Agência Brasil
Publicado em 11/11/2016 - 15:20
Cuiabá
Equipe com intercambistas de países africanos participou do JUBs 2016
© Luiz Pires/Fotojump/CBDU
Equipe com intercambistas de países africanos participou do JUBs 2016

Equipe com intercambistas de países africanos participou do JUBs 2016Luiz Pires/Fotojump/CBDU

A Confederação Brasileira de Desporto Universitário e a Federação Africana de Desporto Universitário (Fasu) prepararam um protocolo de intenções para fazer com que atletas e comissões técnicas façam intercâmbios entre Brasil e países da África, participando de competições fora de seus países de origem.

Vice-presidente da confederação e presidente da representação da Federação Internacional de Esporte Universitário nas Américas, Alim Maluf Neto afirmou que agora é preciso que universidades se interessem a participar da construção do convênio.

"Queremos essa troca de experiências e de know how com a África para capacitar mais os nossos profissionais e permitir a troca de experiência entre os atletas", disse Maluf, que espera ter times africanos competindo nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) já no próximo ano.

O presidente da Federação Africana de Esporte Universitário (Fasu), Michael Malumbete Palete, fez uma visita ao JUBs e acompanhou partidas de futsal. Ele destacou que a parceria também pode desmistificar preconceitos sobre o continente africano.

"O mito de pessoas vivendo com leões em suas casas precisa ser apagado. Nós não somos só pobreza, somos desenvolvimento, somos avanço científico, pesquisa, desenvolvimento em esporte e instalações", disse o sul-africano.

Com o acordo, Malumbete também espera atrair patrocínio para o esporte universitário no continente, uma de suas maiores dificuldades. "Há muito mais que pode ser desenvolvido", diz ele, que defende que os patrocinadores que apoiam universidades e esporte universitário não estão apenas apoiando a formação de bons profissionais. "Estarão investindo em um mundo mais pacífico."

Um acordo do mesmo tipo está sendo costurado com a China, mas a proposta ainda esbarra no desejo dos chineses de promover intercâmbios esportivos mais longos entre os atletas.

Intercambistas

Os JUBs deste ano já contaram com atletas africanos no futsal masculino. O time de estudantes foi a Cuiabá representando a Universidade Federal de Roraima, onde estudam por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação, que oferece vagas de nível superior no Brasil para estudantes de países em desenvolvimento. Com atletas de diversos países da África, a equipe disputou a terceira divisão da competição.

Edvrard Bambock, de 22 anos, nasceu no Camarões e cursa agronomia na universidade brasileira. Ele está no país há sete meses e brinca que achava que tinha aprendido a falar português quando se deparou com a variedade de sotaques dos atletas dos jogos

"Percebi que tem muito sotaque que não dá para entender diretamente. Conversei com pessoas que falavam que eram de lugares que eu não sabia que existiam no Brasil", disse Bambock.  "Cada estado no Brasil tem a sua cultura. Bahia tem uma cultura mais africana e Santa Catarina parece mais com a Alemanha. Nem sabia que o Brasil tinha pessoas que falam alemão".

Bambock chegou a defender a seleção juvenil de futebol no seu país e fez testes para jogar na Alemanha, França e Espanha. No período que jogava na Europa, lesões o impediram de assinar os contratos e a família pressionou que ele voltasse a estudar.

"Não queria decepcioná-los, e eles realmente tem razão. Se eu eu não tiver nada na cabeça, não vou fazer nada da vida".

O atleta e os colegas de equipe se conheceram no Brasil, jogando futsal na universidade. "Ajudou muito minha integração no Brasil, porque passei a jogar com meus irmãos africanos e os brasileiros e entender melhor a língua".

Há quatro anos na Universidade Federal de Roraima, estudando relações internacionais, Onogifro Euclisio, de 25 anos, conta que aprendeu a admirar a espontaneidade e a informalidade dos brasileiros. O estudante da Guiné Bissau se surpreendeu ao encontrar pessoas de camiseta regata na universidade e professores com tatuagens e brincos. "Lá, a gente tem isso de que professor é exemplo e não pode ser assim. Aqui, aprendi um novo jeito de estudo e que está me ajudando", afirmou. Ele disse que quer seguir carreira acadêmica em seu país.

"Quando eu voltar, quero colocar em prática tudo o que aprendi, principalmente em questão de conservadorismo. Já abri mão disso e agora acredito em uma cultura mais liberal".

Labiou Ayigbebe, aluno de jornalismo, e outros colegas, contam que começaram a se interessar pelo Brasil vendo atletas como Ronaldinho Gaúcho vestirem a camisa verde e amarela. Com 17 anos, ele não se abate com as duas derrotas que eliminaram o time do futsal no JUBs e comemora: "Fiz um golaço. Coloquei no Facebook e mandei o vídeo para o meu técnico no Benin. Ele ficou muito feliz".

(*) O repórter viajou a convite da organização dos Jogos Universitários Brasileiros