Especial 8 de Janeiro: O país espera a punição dos arquitetos do golpe
Passados dois anos da tentativa de golpe de estado no Brasil, o país ainda vive a expectativa de punição dos arquitetos dos atos extremistas. E isso envolve a discussão sobre o papel de instituições de Estado na trama. No final de 2024, a Polícia Federal indiciou militares de alta patente pelo planejamento do golpe, incluindo generais que foram ministros do governo de Jair Bolsonaro, como Augusto Heleno, Braga Neto, e o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier.
O ministro do STF, Gilmar Mendes, defendeu a necessidade de despolitizar as forças armadas para fortalecer nossa democracia.
“O que que nós devemos fazer pra que se evite isso? Acho que nós temos que ter uma nova disciplina em relação às Forças Armadas, às próprias forças policiais. Eu acho que a politização das Forças Armadas e da polícia é muito ruim para o sistema e, de alguma forma, é a causa deste fenômeno que ocorreu. E acho que nós temos o dever, pras futuras gerações, de tomar medidas pra que isso não mais se repita.”
A senadora Eliziane Gama, do PSD do Maranhão, relatora da CPI do 8 de janeiro, reforça que a responsabilização dos atos golpistas precisa avançar.
“Então, assim, a gente não pode dizer que estamos resolvidos a situação, não é porque nós temos uma resposta importante do ponto de vista da punição, nós temos investigações em curso, que o problema está resolvido. Nós temos que fazer a investigação, punir quem atentou contra a democracia e nós temos que estar absolutamente vigilantes. Por quê? Porque se tornou uma escola de ataque democrático. A gente não pode dizer que a questão tá superada. Não tá superada. Não está mesmo superada.”
Mas a anistia aos extremistas vem sendo uma moeda política relevante no Congresso Nacional. O atual presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiu, inclusive, criar uma comissão especial para analisar o tema. Para Bianca Santana, jornalista e doutora em ciência da informação, é preciso desmontar as estruturas que permitiram a montagem da tentativa de golpe no país.
“Não comemoro um general preso. Eu comemoro a responsabilização do Exército Brasileiro, das Forças Armadas e também de indivíduos num ataque contra a democracia brasileira, principalmente se a gente conseguir desarticular as estruturas golpistas. Porque prender um general não significa que outro depois não vá fazer a mesma coisa. Então a gente precisa é mergulhar profundamente na estrutura das Forças Armadas, na inteligência do Exército. A gente precisa olhar os documentos da ditadura.”
Já o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, avalia que Estado está conseguindo responsabilizar todos os acusados pela tentativa de golpe e destaca o papel da PF.
“A resposta que o Estado brasileiro deu a essa tentativa de golpe, que poucos países do mundo conseguiram dar. Dentro das regras do jogo com a atuação do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Polícia Federal, ou seja, um processo que permitiu mostrar à sociedade brasileira a gravidade daquilo que estava acontecendo e que a justiça seja feita. O que não se pode é deixar impunes pessoas que cometeram crimes dessa gravidade.”
O cientista político Rodrigo Horochoviski reforça que a sociedade precisa continuar em alerta.
“Do ponto de vista das instituições, pelo menos até 2026, nós vamos continuar com essa tendência a combater as aventuras autoritárias, as ameaças de subversão da ordem democrática. Penso que nós dependemos muito do resultado das próximas eleições, principalmente pra presidência da República. Se nós elegermos políticos menos comprometidos com as instituições democráticas, aí sim nós temos um risco grande de as instituições serem eliminadas por dentro.”
Em 2025, o Supremo Tribunal Federal continua a julgar tanto os responsáveis pela depredação das sedes dos Três Poderes, como quem planejou esses ataques.
Ainda neste primeiro semestre, há expectativa de que a Procuradoria-Geral da República denuncie todas ou parte das 40 pessoas indiciadas pela PF por formação de organização criminosa para tentar efetuar um golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Após a denúncia da PGR, todos os envolvidos devem ser julgados pela Primeira Turma do STF, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
*Com colaboração da TV Brasil e sonoplastia de Messias Melo
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