Bailarina que virou substantivo, Baderna é enredo da União da Ilha

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“Baderna”, palavra popularmente conhecida com o significado de “bagunça”, “confusão”, tem uma origem bastante curiosa. Popular no imaginário brasileiro, ela se remete a uma figura singular da história do país: a bailarina italiana Marietta Baderna, que aos 21 anos emigrou para o Brasil com seu pai, em 1849.

E a história dela será apresentada na Marquês de Sapucaí pela União da Ilha do Governador, escola da zona norte do Rio que está na Série Ouro.

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Diante de uma sociedade escravocrata, a Baderna, no caso a bailarina, movimentou os padrões da época. Apaixonada pelo povo brasileiro e pela cultura popular, ela incorporou muito do lundu, dança afro-brasileira, nas suas performances.

Para o carnavalesco Marcus Ferreira, autor do enredo, falar sobre Marietta e seus adoradores, chamados de “baderneiros”, é falar sobre como a dança pode ser protagonista na luta por igualdade.

"Ela foi elevada aos céus pelo povo do Rio por sua alegria, por sua determinação, né. Por desbravar esse Rio dos desvalidos, das pessoas menos favorecidas, e que a dança teve caminho principal para mudar esse âmbito aí, né, do cotidiano da cidade".

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Marietta Baderna, que se tornou estrela do balé, descobriu um Rio de Janeiro surpreendente. Se encantou pelos ritmos africanos, e dançava pelas ruas com as pessoas negras escravizadas.

Marcus Ferreira, que estreia na União da Ilha após dois anos na Mocidade Independente de Padre Miguel, comenta que, mesmo sendo estrangeira, Marietta Baderna curiosamente entendeu muito bem o espírito carioca.

"Justamente por ser uma mulher branca, italiana, e que se juntou ao povo para viver o Rio de Janeiro, viver a liberdade do Rio de Janeiro, né, e levantar voz àqueles que mais precisavam na sua época, né, por não terem a sua liberdade em si, a sua liberdade social, né, por não terem toda a importância de viver na cidade do Rio de Janeiro de maneira igualitária. Então, Marietta Baderna foi uma das vozes que entendeu de primeira o povo carioca e a nossa gente, né?"

Se quando chegou ao Brasil ela era a grande bailarina romântica, aclamada pelos jornais, aos poucos Marietta Baderna começou a incomodar a elite escravagista do país com sua rebeldia.

Foi quando abraçou a cultura popular afro-brasileira e o movimento abolicionista que o nome dela se transformou no substantivo “baderna” e ganhou sentido pejorativo. Para a sociedade conservadora, dançar o ritmo dos escravizados era ultrajante.

A União da Ilha vai fechar o primeiro dia de desfiles da Série Ouro, na sexta-feira de Carnaval, 28 de fevereiro. E promete encerrar o dia com muita baderna e um grande arrastão da alegria.

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*Com supervisão de Tâmara Freire