Coluna – As finanças dos clubes de futebol do Rio
Ou Botafogo, Fluminense e Vasco buscam novos caminhos de gestão ou vão ficar cada vez mais distantes do Flamengo, no futebol carioca. Em resumo, é o que se pode deduzir do relatório apresentado neste início de maio pela Consultoria EY -“Análise Financeira dos Clubes do Rio de Janeiro 2019”, assinado pelos economistas Alexandre Rangel, Pedro Daniel e Gustavo Hazan. Eles utilizam a ferramenta Sports Analytics, com base de dados financeiros dos clubes do futebol brasileiro e da Europa.
O estudo faz uma análise da última década, de 2010 a 2019. Os números são interessantes, mas ao mesmo tempo assustadores. Eles mostram que, depois de um recuo em 2018, as receitas totais dos quatro grandes clubes do Rio voltaram a crescer. Na década (2010 a 2019) subiram 374%, sendo 28% no último ano. Em quase todas as fontes de receitas houve evolução: nos direitos de transmissão/premiação, de 515%; na transferência de atletas, no caso até 2018, 2165%; nas comerciais, 107%; e em dias de jogos/sócio-torcedor (matchday) 679%. Os direitos de transmissão continuam sendo a principal fonte de receita, atingindo o patamar médio de 39% do faturamento dos quatro clubes.
Na análise em separado de cada um deles, sempre no período de 2010 a 2019, o Botafogo teve aumento de 256%; o Flamengo, 639%; o Fluminense, 245%; e o Vasco, 158%. Se entrarmos um pouco mais nos dados, indicando apenas os dois extremos de cada um dos itens de receita, com direito de transmissão, o crescimento do Flamengo foi de 642% contra 81% do Vasco; com transferências de jogadores, o Flamengo registrou aumento de 38.419%, e o Vasco, 161%; nas receitas comerciais, o Vasco lidera com 307% de evolução, enquanto o Fluminense teve apenas 9%; e nos matchdays, novamente o Vasco aparece em primeiro, com 1309% de aumento, para 179% apresentado pelo Botafogo.
Ainda falando das receitas, dos R$ 188 milhões que arrecadou em 2019, o Botafogo teve 54% oriundos dos direitos de transmissão; é praticamente o mesmo percentual (55%) do Vasco, que faturou R$ 215 milhões; para o Fluminense, esses direitos representaram 41% dos R$ 265 milhões; já para o Flamengo, apenas 35% dos R$ 950 milhões arrecadados, o que o permite maior poder de negociação nessa área de faturamento.
Se a gente parasse por aqui poderia até achar que o futebol carioca está bem, com tantos milhões entrando nos cofres. Um mais do que os outros, mas ao menos com números positivos. O sinal amarelo – e até vermelho – começa a piscar quando passamos a analisar o endividamento. Que no total dos quatro maiores clubes do Rio chegou a R$ 2,606 bilhões. Na média, considerando a evolução das receitas, os quatro clubes precisariam de dois anos para sanarem as dívidas usando todos os faturamentos. Mas infelizmente a situação é bem diferente para cada clube.
O endividamento líquido do Botafogo, nos dez últimos anos, subiu 110%, atingindo a marca de R$ 819 milhões; nesse ranking negativo, o Fluminense aparece com R$ 642 milhões, aumento de 74%; logo atrás, o Vasco, com R$ 639 milhões e 57%; e por fim o Flamengo, com R$ 505 milhões e 51% de evolução no endividamento. Quando cruzamos esses números com os da receita, a correlação entre eles vai mostrar a capacidade de cada um deles operar.
Segundo o economista César Grafietti, o cálculo mais acertado seria usando apenas as chamadas receitas recorrentes, sem os valores referentes a premiações e vendas de jogadores. Com isso, o Botafogo, se usasse todas as receitas para pagar sua dívida, precisaria de quase seis anos. O Fluminense, que desde 2016 apresenta déficit anual, precisaria de quatro anos; o Vasco, de pouco mais de três anos; e o Flamengo, que opera no positivo desde 2014, necessitaria de praticamente nove meses.
Como disse recentemente o economista Fernando Ferreira, da Pluri, “os dirigentes e conselheiros de Vasco, Fluminense e Botafogo deveriam ter a humildade de estudar as transformações e a gestão do Flamengo”. Cabe a cada um deles querer ou não ouvir.
Por Sergio du Bocage, apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil