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Coluna - Sega completa 60 anos mais viva do que nunca

Empresa se reinventa e passa a produzir para a concorrência
Guilherme Neto - Aresentador do quadro Fliperama no programa Stadium, da TV Brasil. A coluna é publicada às quintas-feiras
Publicado em 15/10/2020 - 15:22
Rio de Janeiro
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© Divulgação Sega of Europe/Direitos Reservados

A comemoração de 60 anos da Sega, celebrada neste mês de outubro com a promoção de jogos da companhia e distribuição de títulos gratuitos no Steam, me inspirou a contar um pouco da história e relevância dessa companhia para o mercado de games na coluna desta semana.

A Sega foi fundada em 3 de junho de 1960, sob o pomposo nome Nihon Goraku Bussan (algo como Companhia de Produtos de Lazer do Japão, em tradução livre). Era uma das duas companhias que herdariam o patrimônio da Service Games, fabricante americana de máquinas caça-níqueis do Havaí para bases militares dos Estados Unidos. A marca Sega, abreviação de Service Games, já era usada em alguns produtos da companhia desde 1954. A mudança para o Japão, ocorrida anos antes, deu-se por conta da proibição dos caça-níqueis em territórios americanos.

A marca Sega seria adotada apenas como nome da empresa a partir de 1965. A essa altura, a empresa passaria a investir na importação e fabricação de jukeboxes, máquinas de karaokê, pinball e fliperamas. O êxito no mercado de arcades levou a companhia a investir em consoles caseiros, o primeiro deles o SG-1000, lançado em 1983 no Japão. Começava aí a história da Sega como uma das maiores fabricantes de games do mundo, cujo auge no mercado de hardware viria com os consoles Master System e Mega Drive.

No Brasil, a Sega estabeleceria uma parceria única em todo o mundo. A Tectoy, empresa brasileira no ramo de tecnologia, como representante oficial da companhia japonesa no Brasil, tornaria o Master System e o Mega Drive líderes de vendas no Brasil, superando a Nintendo, que venceu em outros mercados. Em parte, graças ao trabalho de tradução para o português de jogos como Phantasy Star e o desenvolvimento de títulos exclusivos para o mercado brasileiro, como Mônica no Castelo do Dragão e Chapolin X Drácula, além de adaptações de sucessos como Street Fighter II para o Master System. A colaboração entre as duas companhias existe até hoje, com o recorrente lançamento de novas versões do Master System e do Mega Drive nas lojas do Brasil.

Meu primeiro videogame foi um Mega Drive, que, se não me falha a memória, ganhei de presente dos meus pais no natal de 1992. Nascia ali minha paixão pelos videogames, impulsionada por obras-primas como Streets of Rage, Quackshot, Castle of Illusion e, claro, Sonic the Hedgehog, mascote da companhia que a representa ainda nos dias de hoje. Testemunhei o auge da guerra Sega x Nintendo, uma das rivalidades mais lembradas da história dos jogos eletrônicos, e que hoje é tema de livros, documentários e, em breve, um drama em formato de série de TV pela CBS.

Apesar do êxito mundial com o Mega Drive, até hoje considerado o maior sucesso da empresa, a Sega seria engolida pela concorrência com a Nintendo e do novíssimo PlayStation, cujo primeiro console foi lançado no fim de 1994 no Japão. Uma sequência de erros e fracassos com o Sega Saturn e o Dreamcast levaria a empresa à beira da falência, forçando-a a desistir do mercado de hardware em 2001, quando passaria a desenvolver jogos para outras plataformas. Para uma criança dos anos 90, seria inimaginável que, em menos de 10 anos, veríamos o personagem Sonic nos portáteis e videogames da Nintendo.

Embora uma decisão triste para antigos fãs da Sega, como eu, a mudança mostrou-se correta. A empresa acertou as contas e manteve-se como uma das maiores empresas de games do mundo, a 24ª do ranking de receitas, segundo um levantamento do instituto de pesquisa Newzoo entre as empresas de capital aberto. Diferentemente de outras empresas fortes do segmento no passado, como Atari, Midway e LucasArts, a Sega manteve sua marca viva e muito querida na mente e coração dos consumidores.

Foi nessa fase que surgiriam franquias lucrativas como Yakuza, Super Monkey Ball e Total War. Outros sucessos do passado glorioso ganhariam continuações, algumas mais bem-sucedidas do que outras, incluindo Sonic Mania, Phantasy Star Online 2 e Streets of Rage 4. Algumas parecem ter ficado no passado, como Virtua Fighter, Nights e OutRun, embora regularmente sejam lembrados em homenagens, relançamentos ou participações especiais em outros títulos.

Uma chance de reviver a era de ouro da Sega é curtir a coletânea Mega Drive and Genesis Classics, disponível para Steam, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Clássicos do Dreamcast também podem ser encontrados para PC, PlayStation 3 e Xbox 360. Entre hoje e o dia 19 a Sega também disponibiliza gratuitamente no Steam minigames no estilo retrô, entre eles Golden Axed, um protótipo de um reboot do game Golden Axe, e Streets of Kamurocho, uma mistura de Streets of Rage com Yakuza.