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Esportes

Atleta decidiu desertar após família dizer que retorno era inseguro

Krystsina Tsimanouskaya diz que tomou decisão a caminho do aeroporto
Gabrielle Tétrault-Farber e Tom Balfmorth *
Publicado em 05/08/2021 - 23:06
Varsóvia (Polônia)
Krystsina Tsimanouskaya, Belarus, atletismo, tóquio 2020, olimpíada
© Reuters/Darek Golik/Direitos Reservados
Reuters

A atleta olímpica Krystsina Tsimanouskaya decidiu desertar, quando estava sendo levada a um aeroporto de Tóquio, porque sua avó lhe disse que não era seguro voltar para casa em Belarus.

Em entrevista exclusiva à Reuters em Varsóvia (Polônia) nesta quinta-feira (5), a atleta afirmou que sua família temia que ela fosse enviada a uma ala psiquiátrica se voltasse para Belarus, e que sua avó ligou para dizer que não retornasse.

“Sempre estive longe da política, não assinei nenhuma carta, não fui a nenhum protesto, não disse nada contra o governo bielorrusso”, declarou.

“Sou esportista e não entendia nada da vida política. Tento não fazer nada além de um esporte na minha vida, e tento o meu melhor para não me distrair com a política”, afirmou Krystsina Tsimanouskaya.

“Pode parecer cruel por causa de todas as coisas terríveis que aconteceram em Belarus no verão passado, mas estava tentando me manter longe disso, mas tudo que queria era ir para a Olimpíada e fazer o meu melhor”, declarou, referindo-se aos protestos no ano passado, contra o presidente Alexander Lukashenko, que levou a uma repressão policial.

“Queria estar na final e lutar por medalhas”, disse a velocista.

A atleta de 24 anos causou furor no último domingo (1), quando disse que os treinadores, irritados com suas críticas, a ordenaram que voasse de Tóquio para casa. Após buscar proteção da Polícia japonesa, ela voou na última quarta-feira (4) para a Polônia, em vez de ir para Belarus.

A Polônia, que há muito critica o regime autoritário de Lukashenko e abriga muitos ativistas de Belarus, concedeu a Tsimanouskaya e a seu marido vistos humanitários. Mas sua avó continua em casa.

“A avó me ligou quando já estavam me levando para o aeroporto”, afirmou a atleta. “Literalmente, tive uns 10 segundos. Ela me ligou, tudo o que ela me disse foi: Por favor, não volte para Belarus, não é seguro”, declarou.

“É isso, ela desligou”, disse. “Gostaria de regressar à Belarus. Amo o meu país. Não o traí e espero poder regressar”, afirmou.

A saga de Tsimanouskaya, que lembra as deserções esportivas da Guerra Fria, ameaça isolar ainda mais Lukashenko, que está sob sanções ocidentais após uma repressão aos opositores desde o ano passado.

A velocista, que criticou a negligência dos treinadores de sua equipe, passou duas noites na embaixada da Polônia no Japão antes de voar para Viena, e depois Varsóvia, na quarta-feira.

O Comitê Olímpico Nacional de Belarus disse que os técnicos retiraram Tsimanouskaya dos Jogos a conselho dos médicos sobre seu estado emocional e psicológico. A entidade não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários adicionais na quinta-feira.

* Com reportagem adicional de Maria Vasilyeva, Tatyana Gomozova e Angelina Kazakova.