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Testemunha confirma que suspeito de matar cinegrafista confessou o crime

A testemunha contou à polícia que recebeu ligação em que Caio Silva
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 13/02/2014 - 18:04
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Caio Silva de Souza, suspeito de acender o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, é apresentado pela polícia do Rio (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
© Agencia Brasil

Uma testemunha, cujo nome não foi revelado, informou à polícia que na quinta-feira (6), dia da manifestação no centro do Rio, recebeu uma ligação de Caio Silva de Souza, envolvido na morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade. O delegado Maurício Luciano, responsável pelo inquérito sobre a morte do cinegrafista, disse que, ao telefone, Caio confessou que havia cometido uma besteira e que tinha matado um homem.

Segundo o delegado, a declaração foi dada informalmente no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, onde Caio trabalhava como auxiliar de serviços gerais. Mauricio Luciano foi até o local na tentativa de localizar o suspeito da morte do cinegrafista, após ter sido expedido o mandado de prisão contra ele. A testemunha é um colega de Caio no hospital.

“Eu fui ao hospital no dia do mandado de prisão para cumprir, e a gente procurou ouvir as pessoas próximas a Caio. Uma delas, com quem ele tinha contato constante, nos revelou isso: a ligação dele, [que estava ofegante] ofegante, por volta das 19h30, no dia do fato, afirmando ter feito uma besteira e que tinha matado um homem”, revelou, acrescentando, que, por isso, a testemunha foi convocada a prestar depoimento formal à polícia, quando confirmou a informação, que será incluída no inquérito que vai apontar crime de homicídio com dolo eventual.

O delegado ficou satisfeito em saber que a promotora Cláudia Condack, que pretende denunciar até o final da próxima semana os dois suspeitos de ter lançado o rojão contra o cinegrafista, concorda que seja esta a caracterização do crime, conforme ela tinha revelado ontem (12), em entrevista à Agência Brasil. “Fiquei muito satisfeito. É na mesma linha”, disse.

Para Maurício Luciano, as investigações chegaram a provas “robustas”. Na avaliação dele, o fato de Caio ter dito que foi incentivado por Fábio Raposo [o tatuador que confessou ter participado do crime] a deflagrar o rojão não muda a direção do relatório do inquérito que será entregue amanhã (14) ao Ministério Público.

“Ele dizer que era um sinalizador. É claro que ele vai alegar tudo para não assumir que sabia que aquilo era um rojão. Todos eles usam constantemente em manifestações o chamado rojão treme-terra ou rojão de vara. Então, ele dizer que é sinalizador, que o outro que acendeu, que não sabia do poder de destruição. Com tudo isso ele está se defendendo. Ele vai exercer isso em juízo. O advogado vai orientar a ele dizer. O que temos aqui são provas robustas, com materialidade, testemunhas que indicam a intenção dele e autoria do crime. Temos a autoria e a materialidade”, esclareceu.

Maurício Luciano destacou que quem presta auxílio material é partícipe e quem deflagra é autor, mas ambos vão receber a mesma pena. “O que a gente sabe é que eles agiram em conjunto”, contou.

O delegado disse que não viu nenhuma imagem em que Caio apareça segurando o rojão, mas isso pode ser uma estratégia dos manifestantes. “Quem detona não porta, quem porta não detona, para evitar que a pessoa fique incumbida de todos os atos durante uma manifestação. É uma divisão de tarefas”, explicou.

Depois de chegar ontem à Cadeia Pública, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, onde está preso, Caio prestou depoimento ao delegado Fábio Pacífico. “Foi tomado depoimento porque ele demonstrou interesse em ser ouvido. A gente não sabia o que ele ia falar. Ele falou tudo que quis falar de maneira tranquila. Agora tenho que extrair para o inquérito o que interessa para esta investigação”, disse Maurício Luciano.

O delegado responsável pelo caso destacou alguns pontos do depoimento que têm relação com o inquérito, como o fato de Caio ter dito que quem o tinha incentivado foi Fábio, que pensou que se tratava de um sinalizador e que não tinha intenção de matar o cinegrafista. “Muito pouco do que ele disse nessas duas páginas pouco acrescentam à investigação. Para mim, a relevância do depoimento é relativa. Será importante se outras investigações tiverem como objetivo saber o suposto patrocínio de manifestantes”, completou.

Segundo o delegado, o advogado Jonas Tadeu Nunes não estava presente por causa da urgência e não havia tempo suficiente para que ele fosse chamado. “O juiz é que vai entender se tem peso ou não. Coube a gente inquiri-lo porque havia uma situação de que o Caio ia ficar recolhido e queria falar. Então, não houve tempo para chamar advogado. O peso que isso terá no inquérito será verificado em juízo”, explicou.

O tatuador Fábio Raposo, que estava ao lado de Caio no momento em que o rojão foi aceso, permanece preso no mesmo complexo penitenciário, mas está em prédio diferente. Os dois têm prisão temporária que poderá ser transformada em preventiva depois que a denúncia for recebida pela Justiça e iniciado o processo. “A prisão temporária só pode viger durante a investigação. Quando o processo for iniciado, eles poderão continuar presos, mas com outro título de prisão preventiva”.