Jovens debatem influência da participação popular nas políticas públicas
Até domingo (10), cerca de 300 jovens que estão acampados no campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) debatem cultura e política no evento República: Encontro de Coletivos e Redes. O encontro reúne seis caravanas vindas de Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo.
Na mesa O Brasil Que Nós Queremos, o representante da rede colaborativa de trabalho Fora do Eixo, Pablo Capilé, disse que a saída às ruas da juventude, ocorrida em massa em todo o Brasil em junho do ano passado, é o resultado de um processo que começou logo depois da virada do milênio, quando os jovens envolvidos com cultura começaram a ter voz e oportunidades, mas o diálogo com as políticas públicas começou a ser interrompido.
“O junho [de 2013] foi a soma das insatisfações com essa falta de diálogo, começa um levante cultural e várias marchas crescem, como a Marcha da Maconha, Marcha das Bicicletas, das Mulheres, e começam a ocorrer intervenções poéticas, estéticas e urbanas por causa do descontentamento com as políticas descontinuadas na área da cultura, criando uma 'desamarra' na cidade dura que é São Paulo”, avaliou.
O ator e dramaturgo Alexandre Santini, da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, disse que é preciso retomar a cultura como ponto central para discutir a ampliação democrática no país. “Os pontos de Cultura mobilizaram mais de 3 mil iniciativas, com mais de 8 milhões de pessoas. Tinha alguns pontos com mais recursos do que a Secretaria de Cultura do município. A cultura hoje é o campo capaz de pensar a política sustentável e democrática de verdade, pois é criativa e inventiva. É preciso retomar a cultura como um ponto central para os rumos democráticos”.
A professora Ivana Bentes, ex-diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressaltou que a participação popular, como a alcançada com os pontos de Cultura, pode ser o caminho para executar diversas políticas públicas.
“O Estado não tem logística para executar a sua própria política. A gente parte da cultura para buscar experiências na agricultura familiar, na educação, na saúde. Nessas práticas culturais, a gente vai encontrar a experiência da participação. Além disso, não existe participação sem uma formação de mídia, a gente viu isso explodir no país, passa pelas redes sociais, pelo YouTube, a repactuação com os movimentos sociais”, listou.
Convidado para o debate, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, lembrou que o movimento da juventude ocorrido no ano passado é semelhante ao vivido por ele em 1968.
“Eu vivi o Maio de 68, quando houve uma grande ebulição, tudo estava bem e de repente dá um sacode na juventude, porque a busca do bem-estar lá na Europa causou a exclusão do Terceiro Mundo. A minha geração viveu a ditadura e o sonho de mudar não só o Brasil, mas a América Latina. A juventude buscava construir um caminho, com os sindicatos, as donas de casa, que fizeram o movimento contra a carestia, a criação das associações de moradores. Acabou com a queda da ditadura e o nascimento de uma democracia, ainda que pequena, mas poder se reunir e escrever já era muito. A gente achava que tudo estava muito certo, que o vento da história soprava a nosso favor, que o processo era irreversível, mas a dura realidade mostra agora que nada e irreversível”.
Durante o evento, os jovens montaram um acampamento no campus, com uma cozinha comunitária, exposição de livros, fotos e CDs, além de apresentações musicais, oficinas e rodas de conversa, no sistema autogestionado para “ressignificar o nosso próprio país de maneira propositiva”. Também foram debatidos os temas como direitos humanos, comunicação, socialização da cultura, regulamentação das drogas, desmilitarização da polícia, criminalização dos movimentos sociais e reforma política.