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Missa no Cemitério dos Pretos Novos lembrará jovens negros escravizados

Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 01/11/2014 - 17:57
Rio de Janeiro

O Cemitério dos Pretos Novos costuma reunir muitos visitantes no Dia de Finados. Pelo terceiro ano consecutivo, amanhã (2) será celebrada missa em homenagem aos mortos. O sítio, onde ele está localizado, faz parte da área Museu, que hoje se denomina Instituto dos Pretos Novos (INP), na Rua Pedro Ernesto, 36, Saúde, zona portuária do Rio.

Conforme a diretora da instituição, Ana Maria de la Merced Guimarães, a missa começa às 18 horas, com o padre afro-brasileiro Luiz Maurício Teles, da Igreja da Sagrada Família, próxima ao INP. O cemitério foi descoberto depois que Merced e o marido, Petruccio, compraram a casa onde funciona o instituto. Após uma reforma, encontraram, nas escavações, o cemitério de negros africanos. Eles não resistiam à viagem e morriam antes de serem vendidos.

Pesquisas com apoio do Centro Cultural José Bonifácio, Departamento Geral de Patrimônio Cultural, Instituto de Arqueologia Brasileira e da Secetaria de Cultura  identificaram 28 corpos. A maioria era do sexo masculino, com idades entre 18 e 25 anos. Mais da metade apresentava marcas de cremação. O processo era feito para agilizar os sepultamentos, porque os corpos ficavam muito tempo expostos.

Conforme as pesquisas, os crânios encontrados tinham entalhes nos dentes da arcada superior, o que, segundo o INP, indicava a procedência africana dos jovens enterrados no local. Para Merced Guimarães, embora o local não seja para rezas, a religiosidade do museu é evidente. “Ele é aberto para todas as crenças. Além da missa de Finados, messiânicos fazem suas orações e o pessoal do candomblé lava pirâmides em 12 de setembro. O espaço é para homenagens. Acho interessante e singular, porque integra todas as religiões", salientou.

Ela lembrou, ainda, a presença da sociedade muçulmana. “Temos uma placa muçulmana. Eles estão sempre por aqui. Não somos somente um museu do holocausto negro, mas sim uma mistura de público. Aberto à visitação durante todo dia, com entrada grátis, o sítio arqueológico também mantém espaços para a cultura indígena.

Além da missa das 18 horas, está agendada para amanhã a oficina Caminhos da Escravidão. Pública e também gratuita, a atividade está marcada para às 9h30, no Largo de Santa Rita, mesmo bairro. Na sequência, ocorrerá uma caminhada até o museu com o professor Cláudio Norato, historiador e pesquisador do mercado escravo do Rio de Janeiro.