Avenida Presidente Vargas vira moradia temporária para vendedores ambulantes
A Avenida Presidente Vargas, uma das principais vias do centro da cidade do Rio de Janeiro, transformou-se em moradia temporária para dezenas de vendedores ambulantes neste carnaval. Grande parte da avenida é usada como área de armação e concentração das escolas de samba que desfilam no Sambódromo, portanto concentra os integrantes das agremiações e atrai visitantes em busca de uma visão dos carros alegóricos que ficam estacionados ao longo da via até a hora do desfile.
Para garantir uma renda extra, os ambulantes montaram seus pontos de vendas na sexta-feira de carnaval (13), dia do primeiro desfile das escolas da Série A, no Sambódromo, onde oferecem bebidas e petiscos. E, como muitos moram longe do centro da cidade, o jeito foi também transformar o local em moradia temporária, montando abrigos com lonas e pedaços de plástico.
Jorge dos Santos, de 43 anos, divide uma tenda com o filho de 12 anos e mais dez pessoas. Todos vendedores ambulantes, moradores da Baixada Fluminense e da zona oeste da cidade. Eles trabalham na Presidente Vargas há muitos carnavais. “Eu tenho um emprego fixo, mas preciso ganhar dinheiro. Larguei o meu trabalho cedo e já vim para cá. Muitos dependem disso. Trabalho aqui desde os 16 anos”, disse.
Para Jorge e os seus colegas ambulantes, não é só a chuva que atrapalha a vida dos vendedores. Muitos deles, como não têm autorização da prefeitura, correm o risco de ter suas mercadorias apreendidas. Thiago de Souza, que está em seu sétimo carnaval, é um dos que tiveram prejuízo com uma apreensão. Ao lado da tenda onde dormia a irmã, o morador de Cosmos, na zona oeste da cidade, tentava vender suas bebidas.
“Na sexta-feira, perdi R$ 1.200 em mercadorias. Eles passam e levam tudo. Nem adianta argumentar. Isso revolta a gente”, disse o ambulante, destacando que, mesmo com o risco, vale a pena vender na Avenida Presidente Vargas.
Nilton Ferreira está acampado na avenida com a mulher. “No sábado, eles apreenderam mercadoria de um monte de gente. Minha esposa teve que sair correndo para a gente não perder a nossa”, disse Nilton, enquanto almoçava uma quentinha, comprada a R$ 10 de Jairo Correa.
Jairo, vendedor de quentinhas, já está em seu sexto carnaval na Avenida Presidente Vargas, é “fornecedor oficial” de almoço e jantar nessa “cidade” improvisada. Há um ano, ele montou uma pensão em Queimados, na Baixada Fluminense, mas mesmo assim não abriu mão de vender suas refeições para os ambulantes.
“Isso aqui vira a casa desse pessoal por quatro dias”, disse. “Eu vou e volto para casa, mas quase não dá tempo de parar. Quando eu chego, já tenho que voltar para vender a janta. Nesta época, durmo cerca de duas horas por dia”.
Rosane Barbosa é uma das moradoras mais recentes da cidade. Ela chegou hoje, com seu isopor de bebidas. Seu negócio envolve até um banheiro improvisado, para o uso ela cobra R$ 1. O “sanitário” é um quadrado isolado do mundo exterior por uma lona. Ela transformou um galão em um vaso.
Quando o galão enche, ela despeja o conteúdo em um bueiro ao lado de sua tenda. “A gente percebeu que as pessoas ficam na rua bebendo e os banheiros químicos não davam vazão. No desfile do Cordão da Bola Preta, deu muito movimento”, ressaltou Rosane.
A Secretaria Municipal de Ordem Pública informou que vendedores ambulantes que não têm autorização da prefeitura estão exercendo uma atividade ilegal e, portanto, podem ter suas mercadorias apreendidas.