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Armênios relembram massacre de 1,5 milhão de cidadãos em 1915

Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 24/04/2015 - 16:48
São Paulo

Nesta sexta-feira (24), dia em que o genocídio armênio completa 100 anos, a comunidade armênia promoveu uma série de eventos, em todo o Brasil, para recordar a morte de 1,5 milhão de cidadãos  provocada pelos turcos do Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, entre 1915 a 1916. Em São Paulo, a data foi lembrada com uma missa na Igreja Apostólica Armênia, no Bom Retiro. Durante a cerimônia houve o ato da oração de canonização das vítimas, que são consideradas mártires.

O consulado do país também convocou sua comunidade a levar um ramalhete de flores, fotos dos antepassados e cartazes com o sobrenome das famílias para serem depositados na frente da igreja. Às 12h15, os sinos da igreja tocaram 100 badaladas, representando os 100 anos. O horário equivale às 19h15 na Armênia e todas as igrejas dessa nacionalidade tocaram seus sinos no mesmo momento. A hora foi escolhida para recordar o ano de 1915.

Além de  um século do massacre, a comunidade armênia quis chamar a atenção de todos os países para a necessidade do reconhecimento do massacre como crime contra a humanidade e genocídio. A Turquia ainda não reconheceu. No último domingo (19), o papa Francisco usou o termo para descrever as mortes na Armênia sobre o domínio otamano.

O secretário executivo do Comitê do Centenário do Genocídio Armênio, João Carlos Boyadjian, lembrou que, no dia 24 de abril de 1915, morreram 300 intelectuais no massacre, motivo pelo qual a data foi escolhida para representar o centenário. “Muita gente acabou esquecendo desse centenário, que não pode ser esquecido, para que não aconteçam novas tragédias como esta.”

Após a cerimônia, uma carta de reivindicações, entre elas o reconhecimento da tragédia, foi lida em um monumento aos mártires armênios. “Essa carta foi escrita em 29 de janeiro de 2015 e decretada pelo presidente da Armênia, Serge Sarkissian. Queremos ter um ressarcimento por meio do reconhecimento de outros países. Atualmente, mais de 20 países reconheceram e os países que dizem adotar os direitos humanos também devem reconhecer, caso contrário estarão negando os direitos humanos.”

O arquiteto Stepan Hrair Chahinian, de 67 anos, contou que sua família fugiu do genocídio e acabou se espalhando pelo mundo. Parte dela, incluindo seu pai, estabeleceu-se na Síria, onde ele nasceu. Anos depois descobriu-se que uma irmã dele estava no Brasil. “Nos anos 1960, viemos para cá e ficamos. Meu pai faleceu no Brasil. E a história da minha mãe é parecida com a de meu pai. Meu pai tinha sete irmãos e quatro irmãs. Durante esses anos houve alguns reencontros.”

Neto de armênios, o diácono da Igreja Apostólica Armênia, Vâsken Yeginerian, de 28 anos, nasceu no Brasil. Seu avô perdeu os pais durante o massacre e viu a avó ter a cabeça esmagada por um soldado turco, o que os obrigou a fugir para a Grécia e depois para o Brasil. “A herança que essa história deixa é a de nunca desistir. Esses mártires, que ontem viraram santos na nossa igreja, ensinaram que não podemos deixar de acreditar no que cremos que é nossa religião porque eles não se curvaram diante disso.”

Segundo o diácono, celebrar a data já não é mais momento de tristeza, e sim de conscientização, reivindicação de reconhecimento e lembrança dos antepassados. “Eles deram a vida para continuar existindo a nação armênia, que são quase 10 milhões no mundo todo. No Brasil são 50 mil, sendo São Paulo a maior comunidade do país. As comunidades se formaram em consequência desse genocídio. Em todos os cantos do mundo onde se vê um armênio, pode-se ter certeza de que um antepassado dele fugiu do massacre”, disse Yeginerian.