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Pezão: é preciso tratar esgoto da Baixada para despoluir Baía de Guanabara

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 30/07/2015 - 19:33
Rio de Janeiro

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, disse hoje (30) que a despoluição da Baía de Guanabara não estará concluída até as Olimpíadas 2016, que começam no dia 5 de agosto do ano que vem. "Para despoluir completamente a Baía, tem que tratar todo o esgoto da Baixada [Fluminense]”, ressaltou Pezão, após participar do encontro de governadores com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em Brasília.

Pezão afirmou que a Baía de Guanabara é "muito grande" e que o governo fluminense depende de parcerias público-privadas (PPPs), como as que serão feitas em breve na área de saneamento. Segundo ele, o governo do estado vem trabalhando para “minorar cada vez mais o problema”, a fim de garantir a qualidade da água.

As áreas onde serão feitas as provas aquáticas das Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016 foram pesquisadas pela Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, a pedido da Associated Press (AP). Os resultados, divulgados por agências de notícias nacionais indicaram que as competições aquáticas na Baía de Guanabara deverão ocorrer em ambiente contaminado por fezes humanas, com risco de doenças para os atletas.

O Instituto Nacional do Ambiente (Inea), órgão da Secretaria de Estado do Ambiente, que monitora há 37 anos a qualidade das águas de praias e lagoas do Rio de Janeiro, garantiu, em nota, a qualidade da água em todos os pontos das raias olímpicas, com exceção da Marina da Glória. Esses pontos, segundo o instituto, atendem aos critérios nacionais e internacionais recomendados pelo comitê olímpico.

O instituto não reconhece, para fins de balneabilidade, a metodologia usada pela Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, citada pelas agências do país como responsável pela realização de testes de qualidade da água na Marina da Glória para a Associated Press.

Na avaliação do Inea, a universidade ou o especialista parecem “buscar notoriedade”. O instituto lembrou que, atualmente, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, são usados indicadores bacteriológicos para avaliação das condições de banho em águas para fins recreacionais, o que não aconteceu, no caso da universidade.

O Inea admite que existe poluição causada por esgoto na maioria dos cursos d'água do estado do Rio, mas destaca que vem monitorando tudo regularmente. Em nota, o instituto reafirma que os padrões de monitoramento bacteriológicos usados para monitorar a água são robustos o suficiente para indicar que não há qualquer risco para a saúde dos banhistas e atletas. Os resultados das análises feitas nas áreas das provas olímpicas e paralímpicas são divulgados regularmente no portal do Inea.

De acordo com a Secretaria de Estado da Casa Civil, as coletas feitas desde 2009 pelo Inea nas raias olímpicas apontam que “a qualidade da água está apta para a realização das provas”. O estado segue parâmetro de medição por indicadores bacteriológicos, estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

A Casa Civil também questionou a metodologia usada pela universidade de Novo Hamburgo, que “não foi apresentada ao governo do Rio”. Em nota, destacou que a instituição usa outros critérios de medição que não foram adotados em nenhuma edição anterior dos Jogos Olímpicos. “Estamos tranquilos: a qualidade da água está dentro dos padrões internacionais”, disse o chefe da Casa Civil, Leonardo Espíndola.

Na próxima semana, o governo do estado firmará termo de cooperação técnica com seis universidades e dois centros de pesquisa, que auxiliarão no planejamento de ações para a despoluição da Baía de Guanabara.

O secretário executivo de coordenação da prefeitura do Rio, Pedro Paulo Teixeira, garantiu que tudo estará funcionando dentro do padrão olímpico. “O governo tem trabalhado de modo a cumprir as exigências do Comitê Olímpico Internacional [COI] e da Federação de Vela. Os cariocas podem ficar tranquilos, porque as provas aquáticas serão aqui, no Rio de Janeiro”. Uma das alternativas sugeridas seria transferir a competição para o município de Armação dos Búzios, na Região dos Lagos. “Nós adoramos Búzios, talvez seja uma das cidades mais lindas que temos no país, mas as competições serão no Rio de Janeiro, não há dúvida disso.”

Segundo Pedro Paulo, a prefeitura do Rio de Janeiro está à disposição do governador Pezão para ajudar na grande mobilização de despoluição da Baía. Ele disse que o prefeito Eduardo Paes cumpre sua parte, fechando o aterro de Gramacho e fazendo o saneamento da zona oeste do município. “Mas a Baía de Guanabara é uma responsabilidade do governo do estado”, lembrou.

Hepatite A

O médico infectologista e diretor-geral do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski, deixou claro que, sem conhecer a metodologia usada na pesquisa da Associated Press, fica difícil fazer uma avaliação precisa do trabalho do ponto de vista científico.

Migowski disse que, “se realmente” a água tiver vírus, como aponta a pesquisa da AP, o que pode ocorrer são doenças diarréicas. Ele observou, por outro lado, que pessoas adultas que já tiveram contato com esses vírus não vão ter nenhum problema.

Em relação à hepatite A, cujo vírus não foi encontrado na investigação da AP, mas é um fator de risco. A recomendação é que tanto os brasileiros quanto os estrangeiros que virão de países desenvolvidos para as Olimpíadas devem se vacinar contra esse vírus, “independentemente de mergulhar na Lagoa [Rodrigo de Freitas], ou não, porque é um vírus que circula de forma muito intensa no Brasil”. Migowski ponderou que não é um vírus encontrado que vai causar problema. “Tem que levar em consideração a quantidade desse agente infeccioso.”

*Colaborou Daniel Lima


Fonte: Despoluir Baía de Guanabara exige tratar todo o esgoto da Baixada Fluminense, diz Pezão