Ações apontam existência de grupos de extermínio na PM paulista, diz ouvidor
As imagens de câmeras de segurança e de celulares que mostram dois suspeitos de roubo sendo mortos por policiais militares no Butantã, zona oeste da capital paulista, no feriado de 7 de setembro, e as recentes chacinas nas cidades de Osasco e de Barueri, na Grande São Paulo, que deixaram 19 pessoas mortas, evidenciam a existência de grupos de extermínio dentro da Polícia Militar (PM). A afirmação foi feita hoje (15), em entrevista à Agência Brasil, pelo ouvidor da PM, Julio Cesar Fernandes Neves.
Segundo o ouvidor, uma evidência forte da existência de grupos de extermínio é o fato de que, no ano passado, 801 pessoas foram mortas em supostos confrontos com policiais militares e civis. Os dados são da própria Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
De acordo com o ouvidor, os números vêm crescendo: em 2013, foram mortas 440 pessoas em confrontos e, neste ano, até agora, 421 pessoas. “É um número que foge da normalidade", disse Neves. Ele ressaltou que não dá para acreditar que, entre os autores dessas execuções, não estejam pessoas que se organizaram de alguma forma, seja em grupos de extermínio, ou não. “Existem grupos que estão matando gente por aí e de forma organizada”, afirmou Neves.
“São situações que vêm acontecendo há muito tempo, mas que os órgãos oficias não reconhecem de maneira alguma, e as coisas vem perdurando”, acrescentou o ouvidor. Hoje, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, e o governador Geraldo Alckmin, em diferentes no estado, negaram a existência de grupos de extermínio na polícia paulista. Para o governador, o que existe são “maus policiais”, que responderão a processo.
Para o ouvidor, os grupos de extermínio continuam existindo dentro da polícia paulista porque não há punição por esses crimes. Neves informou que, no ano passado, 129 policiais foram demitidos da corporação e 177, expulsos e, neste ano, os demitidos já são 63 e os expulsos, 94. Ele considera o número pequeno diante do número de ocorrências e processos administrativos abertos para investigar a atuação policial. “Para evitar [esses grupos de extermínio], o principal é punir”, afirmou o ouvidor, que defende mudança na postura da Polícia Militar, baseada “em uma cultura de guerra”. “O policial já sai [para as ruas] como se estivesse em um campo de batalha.”
Na opinião do ouvidor, esta não é a polícia que a sociedade gostaria de ter em São Paulo. "A realidade mostrada nessas filmagens é muito forte porque, até então, a maioria da população acreditava que as mortes eram em confrontos policiais, um atirando para cá e outro para lá. E, quando se vê a verdade estampada assim, vê-se uma situação lamentável”, ressaltou Neves.
O ouvidor destacou a importância de as pessoas denunciarem os crimes cometidos por policiais. Um dos canais para isso é a própria Ouvidoria, que mantém em sigilo a fonte. “Garantimos o sigilo. A denúncia pode ser feita até no anonimato, caso a pessoa não queira colocar seu nome. Pode-se mandar carta, documento, telefone mesmo [0800-177070], e-mail [ouv-policia@ouvidoria-policia.sp.gov.br] ou até pessoalmente [Rua Japurá, 42. Bela Vista}, indicando as provas que a Corregedoria, o DHPP [Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa] e o Ministério Público podem colher por meio da Ouvidoria.”
Fonte: Ações apontam existência de grupos de extermínio na PM paulista, diz ouvidor