Prevenção do suicídio é tema de simpósio internacional no Rio
A prevenção do suicídio será tema de um simpósio internacional que ocorre hoje (11) no centro Rio de Janeiro. O ato que uma pessoa pratica contra si mesma revela grave sofrimento psíquico e está relacionado não só ao transtorno depressivo, mas também a diversos problemas de saúde mental, que podem incluir uso abusivo de álcool e drogas. Ontem (10), foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e durante todo o mês de setembro, prédios públicos estarão iluminados com a cor amarela, como forma de alerta.
Para a assessora técnica da Superintendência de Saúde Mental da Prefeitura do Rio Laura Sarmento, a opção pela morte é uma escolha que mostra extremo sofrimento. “Escolher morrer desta forma é uma maneira de acabar com este sofrimento. Então, tem gente que toma muito remédio para acabar com esse sofrimento, e a morte é como se fosse uma saída.”
Para Carlos Correia, coordenador nacional de divulgação do Centro de Valorização da Vida (CVV) – associação civil que mantém um programa de prevenção de suicídio –, antes de pôr fim à vida, a pessoa dá sinais de que está em sofrimento, mas esses sinais, muitas vezes, são ignorados por quem está próximo. “Ela vive constantemente pedindo socorro de maneira indireta. Muitas vezes, uma pequena coisa que para nós seria fácil, para ela é uma montanha que não consegue transpor”, disse.
Ele lembra também que o tema suicídio ainda é considerado por muitos um tabu, de difícil abordagem e pouco comentado. A prática, no entanto, revela que quanto mais debatida, mais eficaz é a prevenção. “Como já ocorreu com as doenças sexualmente transmissíveis, o câncer de mama, o câncer de próstata, quanto mais se falar, mais se trabalha na prevenção e a gente tem percebido que esse tema ainda está escondido, talvez pelo preconceito que está na sociedade.”
Plano de prevenção
No município do Rio está sendo implantado o Plano Municipal de Prevenção ao Suicídio para capacitar os profissionais da Secretaria de Saúde, que trabalham com saúde mental. “Quando uma pessoa tenta suicídio e vai para uma unidade de atendimento ou de socorro, ela deveria ter acolhimento, ser acompanhada e receber tratamento. As pessoas que já tentaram [se matar] uma vez, na primeira semana, o risco de tentar novamente é muito alto. Então, ela não pode apenas ser medicada e liberada. Precisa ser acompanhada e receber um protocolo que estendesse isso [o tratamento]”, disse o coordenador do CVV.
Para Laura Sarmento, o início das discussões para a criação do Plano Municipal de Prevenção ao Suicídio deu maior visibilidade aos casos notificados. “Para todas as pessoas que são atendidas na cidade, os serviços fazem uma notificação. A partir dela, a gente acompanha e ajuda para que estes casos cheguem logo a um atendimento.”
Ela conta ainda que, pela internet, no site da prefeitura, o cidadão tem como saber onde há um posto de atendimento próximo, para buscar ajuda. A partir da chegada a essas unidades terá acolhimento para a abordagem de saúde mental. “Às vezes, a população não sabe que pode ter acesso a isso. Ainda tem o núcleo de apoio à saúde da família, com profissionais de saúde mental para lidar com casos de sofrimento psíquico.”
O Plano de Ação de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu para o período 2013-2020 a meta de reduzir em 10% os índices mundiais de suicídio. O Relatório Global para Prevenção do Suicídio, divulgado pela instituição, em setembro do ano passado, indicou que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida e que em 2012 foram 800 mil mortes no mundo.
O coordenador do CVV lembra ainda que o problema atinge adolescentes em idade escolar e que, além das famílias, outras pessoas próximas de quem está em sofrimento podem ajudar a detectar o problema, como os professores. “O professor olha todo dia na cara do aluno e sabe quem está triste e quem está alegre. A tristeza passageira tudo bem, mas aquela que se instala, aquele olho molhado, aquele andar nos corredores em isolamento, isso é um grande perigo. Nós fazemos atendimento por chat e por e-mail e percebemos que há uma faixa etária muito jovem.”
O CVV recebe, por ano, 1 milhão de acessos com pedidos de ajuda. “Muita gente não tem confidente ou amigo e nós oferecemos essa possibilidade de dar atenção para que a pessoa possa esvaziar esse estresse emocional e continuar a vida dela normalmente. É só isso que a gente faz. A gente oferece carinho com um ouvido liberto sem julgar e dar conselhos”, relatou.
O 5º Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio vai ter a participação de especialistas como o educador Jeppe Kristen Toft, coordenador para a Europa do Befrienders Worldwide; o professor e pesquisador da Unicamp, Neury José Botega; e os psiquiatras Humberto Corrêa e Carlos Felipe D’Oliveira. O simpósio será das 14h às 18h, no centro do Rio de Janeiro e a inscrição gratuita pode ser feita pela internet.