Projeto Golfinho Rotador completa 25 anos em Fernando de Noronha
Com 25 anos, completados em 2015, o projeto Golfinho Rotador cumpriu com seu objetivo de trabalhar para a conservação da espécie no arquipélago de Fernando de Noronha. Segundo o criador e coordenador do programa, o oceanógrafo José Martins da Silva Júnior, no início, em 1990, apenas um barco fazia ecoturismo na região e 100 turistas, no máximo, visitavam o local simultaneamente. “A média era de 3 mil a 4 mil turistas por ano, e hoje temos 50 barcos fazendo passeios e mais de 70 mil turistas/ano, com uma média de mil turistas por dia”, informou.
Para tornar o projeto eficaz, ele começou a trabalhar com a comunidade local e os visitantes. "Descobrimos que a única maneira de fazer isso seria por meio do desenvolvimento sustentável de Fernando de Noronha." O fato de o projeto ter conseguido manter o arquipélato com a maior concentração regular de golfinhos é um grande avanço, disse Martins. Em média, 310 golfinhos são vistos no arquipélago por dia, em 95% dos dias do ano. Os cetáceos usam Fernando de Noronha como área de descanso, para reprodução, para cuidados com os filhotes que incluem amamentação, além de refúgio contra predadores, entre os quais tubarões.
Como a maioria dos turistas quer ver os golfinhos de perto, e 20% dos habitantes trabalham como guias na estação, os dois públicos-alvo têm grande interface. A pressão acaba gerando benefícios e ônus para eles. "Como o golfinho convive com o ser humano, o nosso papel é fazer com que esse convívio cause o menor impacto e a experiência de poder vê-los de tão perto acaba ajudando as pessoas a ter uma consciência maior da necessidade de preservação do planeta”, disse Martins.
O processo de integração com a comunidade foi se desenvolvendo aos poucos, desde o início do projeto, em 1990, quando José Martins da Silva Júnior começou a trabalhar sozinho, com recursos da própria família. “Hoje, temos uma equipe de 15 pessoas, e desde 2001, temos patrocínio da Petrobras, dentro do Programa Socioambiental da empresa, que dá outra realidade de logística, de equipamentos e condições de trabalho. Sem patrocínio, não conseguiríamos fazer nem 10% do que fazemos”.
O projeto começou com a meta de conservar a fauna na natureza. Depois de algum tempo, iniciou-se a pesquisa científica para entender o que ocorria com os golfinhos, e criar normas de proteção para esses animais em função dos resultados obtidos, orientar os visitantes e a população local, além de ajudar os moradores no seu desenvolvimento.
Foram criadas oportunidades econômicas de negócio, todas relacionadas aos golfinhos e à preservação da natureza. O projeto dá consultoria sobre sustentabilidade ambiental, social e econômica aos mais de 100 pequenos meios de hospedagem locais, “para que esses empreendimentos se desenvolvam e repassem as orientações e o conhecimento sobre os golfinhos que são dadas pelo projeto”.
Em 2007, o projeto passou a integrar o Planejamento Estratégico de Biodiversidade Marinha (Rede Biomar). A rede foi criada pela Petrobras e tem parceria do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), onde José Martins da Silva Júnior trabalha há oito anos, como analista ambiental do Núcleo de Gestão Integrada de Fernando de Noronha. Além do Golfinho Rotador, fazem parte hoje da Rede Biomar os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Coral Vivo e Albatroz.
Para os próximos anos, a meta é continuar trabalhando com as pequenas pousadas, e dar seguimento aos cursos profissionalizantes de ecoturismo e educação ambiental, dentro da grade formal da escola do arquipélago. Mais de 3 mil pessoas se formaram nos cerca de 50 cursos em ecoturismo já executados, com grau de aprovação de 70% e índice de empregabilidade dos alunos.
O projeto pretende continuar também com as pesquisas em terra e no mar, para ter respostas quanto à estrutura genética dos golfinhos. Elas incluem a pesquisa da paisagem sonora de Fernando de Noronha. “Vamos gravar todos os sons debaixo d'água de Noronha para saber como isso relaciona, tanto visual como auditivamente, com a intensidade, frequência e impacto para os animais”.
Até o final do ano, Silva Júnior vai começar a filmar as principais áreas de ocorrência dos golfinhos na ilha para poder estudar como é o deslocamento e a reação dos animais aos barcos. As informações estarão disponíveis na página do projeto na internet até 2016.