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Geral

Dificuldade de acesso a especialista atrasa diagnóstico da artrite reumatoide

Elaine Patricia Cruz – Enviada especial*
Publicado em 12/10/2015 - 14:06
Curitiba

No Dia Mundial de Conscientização da Artrite Reumatoide, lembrado hoje (12), médicos destacam que a maior dificuldade para o tratamento da doença no Brasil é o acesso a um especialista da área. Reunidos no 32º Congresso Brasileiro de Reumatologia, evento que ocorreu entre os dias 7 e 10 de outubro, em Curitiba, eles destacaram que o grande problema no tratamento é a demora com quem o paciente chega ao consultório do reumatologista. Segundo especialistas, o melhor momento para o início do tratamento é o período de até 12 semanas após o surgimento dos sintomas.

Uma pesquisa do Instituto Ipsos, feita este ano, a pedido do laboratório Pfizer, em cinco capitais, constatou a demora em se obter diagnóstico para a artrite reumatoide. Segundo a pesquisa, que ouviu 200 pacientes nas cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Porto Alegre, Belo Horizonte e do Recife, as pessoas passam geralmente por três médicos, em média, até o diagnóstico correto. Esse caminho até o reumatologista, que começa geralmente no clínico geral, pode levar dois anos.

“Sabemos que nem todo mundo tem acesso [ao médico reumatologista]. É comum que pacientes cheguem ao reumatologista cinco anos depois e vemos que o desastre já está feito. O problema não é a medicação, que está disponível na rede pública. O problema é ter acesso ao médico ou ao reumatologista”, disse a médica Rina Giorgi, diretora do Serviço de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e membro da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Segundo o presidente do Congresso Brasileiro de Reumatologia, Eduardo dos Santos Paiva, um dos fatores que provocam essa demora no acesso é a falta de profissionais. “Temos muito mais ortopedistas que reumatologistas até porque se trata de uma nova especialidade.”

O presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, César Baaklini, concorda. Segundo ele, as doenças reumáticas, que envolvem mais de 120 tipos, são tratadas atualmente por apenas cerca de 2,2 mil profissionais no país. “É muito pouco e concentrado principalmente na Região Sudeste do país. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são muito pobres em reumatologistas”, disse Baaklini.

“Muitas vezes, o reumatologista está no serviço terciário, da universidade, e não nos postos de saúde. Temos poucos reumatologistas na linha de frente. Isso faz com que os pacientes tenham uma fila de um ou dois anos para chegar [a um local] onde possam ser atendidos por um especialista e imediatamente ter seu tratamento mais adequado instituído”, destacou o presidente de honra do congresso, Sebastião César Radominski, membro da Comissão de Doenças Osteometabólicas e Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Segundo Radominski, é preciso aumentar o número de especialistas em reumatologia na rede pública, atuando junto com os serviços básicos. “Eles ainda são muito insuficientes na rede pública. E esse atraso acaba trazendo uma perda daquela janela de oportunidade. E aí, quando se trata, nem sempre é o momento ideal. Lógico que ainda se é possível impedir daqui para a frente o que acontece, mas muitas lesões já estão estabelecidas e isso melhora pouco”, ressaltou.

Outro fator para a demora no início do tratamento é o próprio desconhecimento da doença. Costuma-se, por exemplo, relacionar a artrite reumatoide a uma doença de idosos, mas ela também acomete crianças. “A criança não fala de dor, mas geralmente é a mãe que nota que a criança está andando estranho, que pede muito colo ou não brinca tanto. O diagnóstico precoce é um grande desafio. O alerta é muito importante. É preciso observar sinais da criança como pedir colo, mancar e se há inchaço das articulações”, afirmou Paiva.

“É preciso procurar melhorar o nível de consciência da população sobre as doenças e orientar os médicos que atuam na atenção primária para identificar o início da doença”, acrescentou Baaklini.

Para a presidenta da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Lícia Maria Henrique da Mota, apesar dessas dificuldades, houve avanços nas últimas duas décadas no diagnóstico da doença no país. “A artrite reumatoide passou por uma mudança muito profunda nesses últimos 20 anos. Mudou o diagnóstico da doença, que tinha o diagnóstico muito tardio, quando os pacientes já tinham deformidades e sequelas irreversíveis. Hoje, um dos nossos principais objetivos é conseguir o diagnóstico precoce da doença, nos primeiros meses ou semanas, quando o paciente ainda não tem sequelas, já que o objetivo do tratamento é prevenir essas sequelas, antes que elas sejam irreversíveis”, disse.

Segundo Lícia, o paciente deve procurar um profissional assim que começar a perceber dor e inchaço nas articulações. “O paciente não tem como comprovar a suspeita [de estar com artrite reumatoide]. Mas, se ele chegar a um especialista muito precocemente, o especialista consegue fazer o diagnóstico e ,iniciar o tratamento. O que acontece, geralmente, é uma demora muito grande. Primeiro porque o paciente demora a perceber os sintomas, e aqui no Brasil temos o problema da automedicação. O paciente compra o remédio na farmácia e vai protelando o problema.”

Doença crônica

A artrite reumatoide é uma doença crônica, inflamatória e sem cura, que atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil. Os pacientes ficam com as articulações comprometidas e podem ter rigidez ou deformidade articular, o que dificulta atividades consideradas simples, como segurar um copo ou escovar o dente. Normalmente, a doença atinge primeiro as articulações das mãos e dos punhos, mas a evolução do quadro pode causar deformidades maiores, afetando articulações mais centrais como os cotovelos, ombros, tornozelos, quadris e joelhos e até comprometer ossos, tendões, ligamentos e músculos.

A doença pode ser provocada por uma predisposição genética. “A primeira coisa é saber se há histórico familiar, se há uma história familiar com artrite, lúpus ou alguma doença reumática porque o paciente tem uma chance maior [de desenvolver a doença]. Se alguém tiver uma dor na junta que demore mais do que três semanas e que venha acompanhada por inchaço, pode ser alguma dessas doenças [reumáticas]”, disse Sebastião César Radominski.

*A repórter viajou a Curitiba a convite da Pfizer e do Congresso Brasileiro de Reumatologia