Cerimônia homenageia vítimas do holocausto e critica reedição de livro nazista
Já se passaram mais de sete décadas desde que a polonesa Rachela Gotthilf enfrentou o peso da intolerância e o medo da morte no Gueto de Varsóvia, área na Alemanha nazista que isolava judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945).
Hoje (25), ela e outros sobreviventes da perseguição nazista da década de 1940 que vivem no Brasil foram homenageados, na capital paulista, por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, celebrado no dia 27 de janeiro, data em que o campo de concentração de Auschwitz foi fechado no pós-guerra.
“Nós sentimos a obrigação moral de contar ao mundo e dizer em voz alta: eu estive lá. Eu vi com os meus próprios olhos o sangue vermelho com explosões no Gueto de Varsóvia. Eu vi levarem minhas amigas. Eu senti o cheiro das câmaras de gás”, relatou Rachela, representando os cerca de 20 sobreviventes que participaram do ato de hoje.
A cerimônia, promovida pela Federação Israelita de São Paulo, ocorreu na sede da Congregação Israelita Paulista. Na próxima quarta-feira (27), a data será novamente lembrada em Brasília.
Durante a celebração, seis velas foram acesas em memória dos mais de 6 milhões de judeus mortos no holocausto. “Sabemos que muitos outros milhões de pessoas não judias também morreram naquele período”, relembrou o rabino Ruben Sternschein.
Ele destacou que as velas são símbolo da memória que não pode ser apagada para que massacres como aquele não se repitam. “Queremos resgatar ideias, valores, que nos devolvam nossa humanidade, na fé, na vida e no mérito de sermos humanos”, disse o rabino.
Protesto contra livro de Hitler
A republicação do livro Mein Kampf (A minha luta, em tradução livre), um manifesto de Adolf Hitler, foi criticada durante a cerimônia.
“É lamentável, nesse mundo conturbado, que algumas editoras cogitem a reedição do nefasto Mein Kampf, de evidente conteúdo discriminatório, fascista, intolerante, racista. É preciso respeitar a memória e a dignidade das vítimas das atrocidades patrocinadas pela ideologia nazistas”, disse o presidente da Federação Israelita de São Paulo, Bruno Laskowsky.
A sobrevivente Rachela Gotthilf também criticou o relançamento do livro de Hitler. “Peço a vocês, cidadãos do mundo, para que interfiram com tudo o que é possível para impedir [a reedição]”, disse.
Segundo o rabino Sternschein, a obra nazista fala claramente no extermínio de judeus. “Por mais incrível que pareça, ele [Hitler] confessou, inclusive, que o objetivo da Guerra Mundial e da conquista do mundo era limpar o mundo de judeus”, destacou.