Volta às aulas revela problemas em escolas de Fortaleza
Estudantes tiveram de sentar no chão em uma das escolas em Fortaleza
No primeiro dia de aulas na rede municipal de ensino de Fortaleza, a Escola Waldemar Barroso, no Bairro Serrinha, estava incompleta. Em uma das salas de aula, os alunos chegaram e não encontraram as carteiras que os acomodariam. A aula, no entanto, prosseguiu e os estudantes tiveram de sentar no chão e apoiar o material escolar em cadeiras de plástico.
A cena foi fotografada ontem (27) por integrantes do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará (Sindiute). A situação da escola não é única neste início de ano letivo. Na Escola Hilberto Silva, no Bairro Carlito Pamplona, os alunos assistem aulas enquanto, do lado de fora, operários seguem com a reforma da cozinha e dos banheiros.
“Achei estranho essa obra no começo das aulas. Tiveram as férias todas para fazer isso e estão fazendo agora. E se as crianças ficam doentes? Achei errado”, reclamou a dona de casa Suelita Maria, mãe de uma das alunas da escola.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza (SME) esclareceu que a situação dos estudantes que assistiram aula no chão na Escola Waldemar Barroso é um caso isolado e tratou-se, na verdade, de uma atividade em sala em que os alunos foram “convidados a sentarem no chão”.
Mesmo assim, a secretaria informou que abriu processo administrativo para apurar o caso, “tendo em vista que não há problema sistêmico de falta de mobiliário nas escolas municipais”.
Sobre a Escola Hilberto Silva, a secretaria afirmou que a reforma dos banheiros e da cozinha não atrapalha a rotina dos alunos e que somente o intervalo será interrompido durante as obras, com os horários de aula “sendo cumpridos rigorosamente”.
Verbas
Ao expor os problemas nas escolas municipais no início do ano letivo, o Sindiute chamou atenção para os R$ 289 milhões recebidos pela prefeitura de Fortaleza do Tesouro Nacional após ação judicial, por conta de o município ter complementado com verbas próprias os valores do antigo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) em 2005 e 2006. O Fundef foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
O Sindiute e outras representações de profissionais da educação reivindicam que o valor seja utilizado integralmente na educação. “Entendemos que 60% desse dinheiro devem ser destinados aos professores e 40% para a infraestrutura das escolas. Se o município afirma que já fez esses investimentos e que, agora, está somente sendo ressarcido, por que as escolas estão caindo na cabeça dos professores, dos funcionários e dos alunos?”, questionou Gardênia Baima, da direção executiva do Sindiute.
De acordo com a prefeitura, os recursos, por serem decorrentes de uma indenização, podem ser aplicados em qualquer área. Em nota divulgada no dia 14, a secretaria explicou que não há fundamentação legal que obrigue a administração a utilizar o dinheiro somente na educação.
“A verba é oriunda de uma ação contra a Fazenda Pública Federal e não de transferências constitucionais ou legais. Dessa forma, pode ser utilizada para reforçar os investimentos que a Prefeitura vem fazendo na cidade, inclusive, para a área da educação.”
O Ministério Público Federal (MPF) também questiona a prefeitura de Fortaleza sobre a aplicação do dinheiro. O órgão analisa se a utilização da indenização em outras áreas configura improbidade administrativa.
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