logo Agência Brasil
Geral

Recife diz que não utiliza o larvicida Pyriproxifen, suspenso no RS

Sumaia Villela – Correspondente da Agência Brasil
Publicado em 15/02/2016 - 17:15
Recife

Diante da polêmica sobre o larvicida Pyriproxifen, a prefeitura do Recife afirmou hoje (15) que nunca usou a substância para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do vírus Zika. O uso do Pyriproxifen foi suspenso pelo governo do Rio Grande do Sul no último sábado (13), sob a alegação de que a substância pode estar relacionada à ocorrência de microcefalia em bebês.

O Ministério da Saúde e o fabricante do larvicida já se manifestaram em defesa do produto, que é distribuído pelo governo brasileiro para o controle de vetores de doenças, entre eles o Aedes aegypti.

Brasília - Exposição sobre o combate ao mosquito Aedes aegypti, na cerimônia de troca da Bandeira Nacional, na Praça dos Três Poderes (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Larvas do Aedes aegyptiFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A capital pernambucana tem o maior número de notificações de nascimentos de crianças com suspeita de microcefalia em todo o país. São 258 bebês residentes no Recife registrados pelo serviço de saúde. Desse total, 40 foram confirmados, em 26 casos a malformação foi descartada. O restante está em investigação.

Até 2001, o Recife usava o larvicida Temefós e, a partir de 2002, passou a empregar um substituto biológico a base do Bacillus thuringiensis israelensis (BTI).

De acordo com Secretário de Saúde do Recife, Jailson Correa, depois que passou a ser possível comprar larvicidas por meio de licitação, a partir de 2009, a prefeitura optou por usar recursos próprios e continuar comprando o produto biológico e não usar mais o fornecido pelo Ministério da Saúde, que atualmente é o Pyriproxifen.

“A gestão e a prefeitura do Recife na época avaliaram que, considerando que Recife é uma cidade banhada por rios, seria adequado manter um larvicida biológico que tivesse menor impacto ambiental”, explica.

Segundo Correa, a aplicação do BTI faz parte das ações rotineiras dos agentes da prefeitura. O produto é colocado nos reservatórios de água da população ou em possíveis focos de reprodução do Aedes aegypti que são difíceis de ser eliminados. Após a aplicação, a substância tem 40 dias de ação.

Ao contrário da capital, vários municípios de Pernambuco utilizam o Pyriproxifen, o que levou a Secretaria Estadual de Saúde a também se manifestar sobre o assunto. Em nota, o órgão disse que  “há casos de microcefalia em locais que não usam o larvicida Pyriproxifen há anos, como também em muitos locais onde seu uso é frequente não há registros de casos”.

A secretaria argumenta que o uso do Pyriproxifen é aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que não existem estudos epidemiológicos que comprovem a associação do produto com a “a microcefalia ou com qualquer efeito mutagênico, genotóxico, carcinogênico, teratogênico ou neurotóxico”.

Hoje, os mais de 7,7 mil militares enviados a Pernambuco para reforçar o combate ao mosquito Aedes aegypti já estão na rua fazendo visitas a casas e comércios e aplicando larvicidas em possíveis focos de reprodução do inseto. Desde dezembro, o trabalho dos agentes de vigilância ambiental já vinha sendo reforçado por membros das Forças Armadas.

Mal-entendido

A suspensão do Pyriproxifen no Rio Grande do Sul foi decretada com base em uma nota técnica da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que, na avaliação do governo gaúcho, relaciona o produto com a ocorrência de microcefalia. No entanto, a entidade diz que houve um mal-entendido e que nunca associou o uso do Pyriproxifen à malformação.

“Está havendo um mal entendido. Na nossa nota técnica não colocamos essa relação em questão, ou seja, não dissemos que o larvicida está associado à microcefalia”, explicou à Agência Brasil o coordenador do Grupo de Saúde e Ambiente da Abrasco, Marcelo Firpo.

Segundo Firpo, o que a entidade critica é o uso de substâncias químicas como principal estratégia de combate ao Aedes aegypti. Para a Abrasco, o foco do problema é outro: “As populações mais atingidas são justamente as mais pobres, com problemas estruturais de saneamento básico, de acesso à água potável. Consideramos um contrassenso sanitário, um absurdo a colocação de veneno larvicida na água potável”.

Segundo Firpo, ampliar investimentos em saneamento básico e distribuir equipamentos seguros para armazenamento de água são algumas das soluções necessárias para evitar a proliferação de criadouros do Aedes aegypti e outros vetores de doenças.

 

*Matéria atualizada às 17h50 para incluir o posicionamento da Abrasco