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Mulher de lobista nega ter conhecimento de negócios irregulares do marido

Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 02/02/2016 - 20:38
Brasília

A empresária Cristina Mautoni negou hoje (2) ter conhecimento sobre irregularidades nos negócios do marido, o lobista Mauro Marcondes, parceiro dela na Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Corporativa (M&M). “Se desconfiasse de alguma coisa, teria encerrado naquele momento. Não consegui entender porque estou presa”, disse Cristina em depoimento nesta terça-feira à Justiça Federal, em Brasília.

Cristina confirmou que a M&M contratou a empresa LFT Marketing Esportivo, de Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela confirmou ainda que fez o pagamento de R$ 2,5 milhões, mas que não soube dizer qual foi o serviço prestado.

A empresária confirmou também que a M&M trabalhou para empresas como MMC Automotores Ltda, que fabrica veículos Mitsubishi no Brasil, e com a Caoa, que comercializa veículos da Hyundai no Brasil. Cristina afirmou desconhecer qualquer ilegalidade na relação do marido com essas empresas.

Cristina e o marido são réus na Operação Zelotes e estão presos desde o ano passado em Brasília. Ambos são acusados de envolvimento em suposto esquema de compra de medidas provisórias e decisões do governo para favorecer montadoras e fabricantes por meio de pagamento de propina a agentes públicos.

Cristina disse não saber detalhes do trabalho do marido. Explicou que imprimia os emails dirigidos a ele e o entregava, sem ler o conteúdo. Ela também negou ter feito o pagamento de R$ 4 milhões ao PT, supostamente pagos ao partido para edição de medidas provisórias. “Nunca paguei R$ 4 milhões ao PT”.

Ela disse ainda acreditar na inocência de Marcondes. Segundo Cristina, seria “burrice” ele participar de um esquema criminoso. “Não acredito que ele tenha feito qualquer coisa errada. Ele tinha notas fiscais e não ia fazer essa burrice no fim da vida. [Teve] dez mandatos de vice-presidente na Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores]. Só se fosse louco.”

Indagada sobre se sabia de algo relacionado à escolha do Brasil pelos caças suecos da empresa Saab, com a qual a M&M tinha contrato, Cristina disse que, em 2013, Marcondes tentou, sem sucesso, contato com o ex-presidente Lula. Ela, porém, não soube dizer se o assunto era a compra dos aviões, que, na época, ainda estava em aberto.

“Em 2013, a secretária reclamava que não conseguia contato com o Lula. Ela dizia que já tinha deixado dez recados. O motivo da reunião, que ele queria falar, eu não sei. A secretaria ligou para o Instituto Lula, mas não teve sucesso, porque Lula não atendeu.”

Com relação à compra dos caças da Saab, Cristina lembrou de um comentário do marido após a oficialização da escolha. “Ele [Marcondes] fez um comentário que me chamou atenção. Que o Lula era a favor do caça francês e a Dilma do caça americano. Mas, quando o Obama a grampeou, ela fez a escolha por exclusão”.

No fim do depoimento, Cristina pediu para que o juiz a liberasse. Chorando, disse que a filha estava desassistida, uma vez que ela e o marido estavam presos. “Queria pedir para o senhor me deixar cuidar dela. Depois que o pai foi preso, ela implorava para que eu não a deixasse. Dormia agarrada comigo todas as noites. Isso me matava todos os dias. Peço ao senhor para eu poder cuidar da minha filha.”